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Crítica
Olhar viciado ofusca real aparência em "Frenesi"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A polícia dos filmes do diretor inglês Alfred Hitchcock não
é, na verdade, muito diferente
da polícia da vida real. Ambas
se apoiam nas aparências: aquilo que se chama de indícios ou
evidências.
No caso de "Frenesi" (TC
Cult, 23h55; 18 anos), o filme
todo se estrutura sobre esse
equívoco.
Um homem é acusado de
matar a ex-mulher, dona de
uma agência matrimonial. Indícios: ele esteve na agência dela, alguém ouviu uma discussão
entre o casal, eles são divorciados etc. Seria esse um crime
passional?
Só a mulher do investigador
do caso duvida que esses indícios tenham alguma relação
com a verdade. Por quê? Porque o marido não foi às verdadeiras aparências, mas apenas
àquelas que o hábito e a psicologia rasteira consagraram. Ela
mostrará o caminho ao cônjuge, deliciosamente.
O central, porém, é que
Hitch se detém, neste longa-metragem de 1972, sobre o que
é o cinema (em sua nada desprezível visão): a arte de substituir o hábito do olhar pela real
observação das aparências.
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