São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Montagem faz de obra esquecida de Plínio Marcos um clássico

Filho do dramaturgo, Leo Lama atualiza peça escrita nos anos 1960 sobre um operário levado ao desespero

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

A vitalidade de um drama esquecido. "Quando as Máquinas Param", encenação de Leo Lama da peça de Plínio Marcos dos anos 1960, é uma grata surpresa. O espetáculo, radical na simplicidade, atualiza o original, dando-lhe a aura de um clássico. A peça teve duas versões. A primeira, "Enquanto os Navios Atracam", foi escrita e encenada em 1963, nas matinês universitárias do Teatro de Arena. Em 1967, já com o nome definitivo e um personagem a menos, estreou numa sala menor do Teatro Brasileiro de Comédia.
Se as montagens não passaram despercebidas da crítica à época, não tiveram a mesma recepção de outros textos de Marcos. Talvez a temática do desemprego e caracterizações menos fincadas na marginalidade não chamassem tanto a atenção.
O personagem central é um operário, cheio de boas intenções e sentimentos nobres, que se vê paulatinamente levado ao desespero por não conseguir se recolocar no mercado de trabalho.
Ele e a mulher evoluem da confiança na capacidade de superar os contratempos até uma situação limite.
Lama optou por valorizar a prosódia do texto, atraindo atenções para a riqueza das falas curtas e saborosas, muitas vezes evocando termos datados, mas nunca impertinentes ao ritmo dramático. Ele abandonou qualquer pretensão realista na configuração do ambiente em que os personagens dialogam.

NUDEZ CÊNICA
O palco está nu, e os dois intérpretes, depois de um aquecimento à frente do público, postam-se firmes, sobrepostos uma ao outro, durante a representação. Nessa condição, despidos de muletas cenográficas e de adereços, concentram toda a energia na enunciação das falas. A proposta do diretor depende do desempenho de Kelly di Bertolli, como a pacata Nina, e de Rodrigo Caldeira, como o simpático Zé.
Ambos realizam com talento e com isso conseguem revelar em um texto supostamente menor de Plínio o que ali havia de imorredouro.
Leo Lama, filho do autor, já tinha se revelado um dramaturgo de respeito. Com o trabalho, de um minimalismo lancinante, além de resgatar um texto relegado, abre diálogo com as correntes mais experimentais do teatro brasileiro contemporâneo.

QUANDO AS MÁQUINAS PARAM

QUANDO sex. e sáb., às 20h, e dom., às 19h; até 22/5
ONDE Zanoni Ferrite (av. Renata, 163; tel. 0/xx/11/2216-1520)
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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