São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

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Filme olha para o presente

da enviada a Paris

Dois estrangeiros numa região estrangeira ao país que a abriga. "Western" conta a saga de Nino, russo, e Paco, catalão, pela região da Bretanha, oeste da França.
Região que o diretor Manuel Poirier define como isolada do país por manter de maneira forte sua própria tradição.
Uma vez que o título do filme remete a um gênero cinematográfico, vale avisar que nesse longa não há tiros e nem índios. Há, sim, a relação dos personagens com o espaço, a busca de identidade, a transformação de caráter íntimo.
Mas esse "Western" francês se aproxima mais de um road movie introspectivo do que do gênero consagrado por John Ford. Introspectivo não porque não tenha ação. Aliás, ação é o que não falta, a começar pela forma como Paco encontra Nino: quando este lhe aplica um golpe e lhe rouba o carro.
Sem carro e sem dinheiro, Paco encontra uma amante. Após uma série de acontecimentos, fica amigo de Nino e tem que dar um tempo na relação com a namorada. É então que eles decidem viajar.
Começa aí o road movie. Introspectivo, como se dizia, porque os acontecimentos parecem brotar do interior dos personagens, e não vir de fora. A atuação dos atores é de uma naturalidade tão grande que as cenas parecem improvisadas.
O que provoca uma sensação de que o encadeamento dos fatos se foi construindo no decorrer das filmagens. E o acaso passa a ser o fator determinante do desenrolar da trama.
Introspectivo também porque é uma odisséia dos personagens à procura de um amor e de uma identidade. A tentativa de adaptação a um novo país faz parte dessa busca, que se faz olhando para o futuro e ignorando o passado.
O que contrasta com o caráter da Bretanha, voltada para as tradições. Mas que representa, por seu isolamento, um espaço desvinculado do mundo e próprio para a construção de uma nova identidade.
Que Poirier consegue trazer para "Western". Despreocupado com relação a inovações (e portanto com relação ao passado e ao futuro), ele constrói um filme que olha para o presente. E que, como este, é sólido. (CS)



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