São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Balé "é coisa de veado', diz "Fantástico'

da Reportagem Local

Durante a exibição de uma reportagem sobre o Ballet Kirov, no programa "Fantástico" de anteontem, a Rede Globo transmitiu uma voz em "off" (ao fundo) que fazia o seguinte comentário: "Isso é coisa de veado".
O comentário foi ouvido pelos telespectadores logo no começo da reportagem, feita por Glória Maria, que também é apresentadora do "Fantástico".
Glória Maria acabara de fazer a introdução da reportagem quando começaram a ser exibidas imagens de movimentos de uma bailarina. Nesse momento, uma voz masculina disse, ao fundo, "isso é coisa de veado".
Aparentemente, a voz seria do apresentador Pedro Bial, o que a Rede Globo, oficialmente, nega. Dentro da emissora, o incidente foi atribuído à área técnica. Bial não foi encontrado pela reportagem até as 18h30 de ontem.
A direção de jornalismo, por meio da assessoria de imprensa da emissora, diz não saber o que houve, mas afirma ter certeza de que o vazamento de áudio não ocorreu no estúdio do "Fantástico".
"A central de engenharia está analisando de onde veio a voz. Acredita-se que a frase já estava gravada em alguma das fitas que foram usadas no momento da exibição da reportagem", afirma Paulo Carneiro, diretor de divulgação da emissora.
O argumento não é convincente. Se houvesse a certeza de que a voz partiu de uma das fitas gravadas, era improvável que, até as 18h de ontem, a emissora ainda não tivesse um diagnóstico da falha.
O acontecimento mais viável para explicar esse deslize seria justamente uma possível brincadeira do apresentador Pedro Bial.
Acreditando que seu microfone estivesse desligado, ele teria feito o comentário. Mas essa prática, nada rara em transmissões ao vivo, é a primeira que a Globo descarta.
O comentário causou reação de bailarinos e entidades de defesa dos homossexuais, que consideraram a fala preconceituosa.
Para Márika Gidalli, diretora-fundadora do Ballet Stagium, "o comentário de Pedro Bial foi uma lástima, muito infeliz. Meu marido é bailarino, tenho dois filhos que são bailarinos, e eles não são homossexuais".
Já o grupo ativista gay Atobá, do Rio, promete mover uma ação contra a Rede Globo.


Colaborou CRISTINA PADIGLIONE, colunista da Folha


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.