São Paulo, Quarta-feira, 05 de Maio de 1999
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Milton canta Michael Jackson em clima de baile

Divulgação
O cantor e compositor mineiro Milton Nascimento, que volta às origens em seu novo trabalho, "Crooner"



Em seu novo CD, 'Crooner', o artista interpreta músicas de outros compositores, como fazia no início de sua carreira


MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

Milton Nascimento era crooner, há 40 anos, em Minas Gerais. Animava bailes em que a sociedade se encontrava e as garotas debutavam. Começou aos 14 anos e tinha de se esconder na cozinha, quando o juizado de menores aparecia.
Seus grupos, Luar de Prata, Duílio Cougo e W'Boys, tocavam bolero, rumba, samba e rock; W'Boys porque todos tinham a letra dáblio no nome, como Wagner Tiso. Milton virou Wilton e, depois, mudou para Milton Willer.
A história do garoto Willer é notória. Foi DJ de uma rádio de Três Pontas (MG), cantor de boates e descoberto por Elis Regina. Saltou as montanhas de Minas Gerais, lançou 30 discos e cantou o Brasil e o mundo -ganhou um Grammy, em 1998, com o disco "Angelus", na categoria world music.
Mais um século se vai, e, de estação em estação, Milton Nascimento está no trem azul, tomando o caminho de volta. Gravou, há um ano, o disco "Tambores de Minas", uma nítida reapreciação de suas raízes. Agora, Milton chega aonde começou, na estaca zero.
Ele é o crooner do disco "Crooner", produzido por Guto Graça Mello, com arranjos de seu parceiro há 30 anos, Wagner Tiso. No disco, a presença de clássicos de bailes que Wilton ou Willer cantava, como "Only You" e "Aqueles Olhos Verdes", um rearranjo de Michael Jackson ("Beat It"), a presença do pop brasileiro de Lulu Santos ("Certas Coisas") e da nova música mineira de Samuel Rosa, do Skank ("Resposta", uma parceria com Nando Reis).
A tradição e o contemporâneo estão de mãos dadas. O passado está nas entrelinhas, como um sampler do coro de crianças de "Paula e Bebeto" emprestado à música "O-o-h Child". Tamba Trio é para quem o disco é dedicado.
Milton recomeça. Está de bem com a vida, depois do susto de uma doença grave. Quem está de bem com a vida e toma um susto desse procura no passado as explicações para os tropeços da viagem.
Uma curiosidade, no disco, é a música "Barulho de Trem", a primeira composta por Milton, quando ele tinha 16 anos, e impressa em um disco independente -música que até há pouco tempo ele renegava, segundo afirmou, em entrevista cujos trechos estão a seguir.

AS RAÍZES - "O que despertou essa volta ao passado foi o "Angelus", disco em que está a minha vida toda, como "Seis Horas da Tarde", a hora em que nasci. Comecei a sentir saudade de pessoas e lugares e resolvi ir atrás. Eu estava no sul de Minas e passou uma folia de reis. Tinha intervalo de vozes que um sujeito fica dez anos numa faculdade de música e não consegue fazer. Fazem aquilo naturalmente. No disco "Renascimento", coloquei essas batidas de tambores."

O CROONER - "Fui fazer o "Faustão" e cantei "Bailes da Vida". O Faustão perguntou se eu mexia com bailes e pediu para eu cantar algumas músicas. Cantei "Frenesi" e "Only You". Foi uma surpresa. Quando saí do programa, olhei para a produção e disse: "Meu próximo disco está pronto!". No fundo, nunca deixei de ser um crooner."

NOS BAILES DA VIDA - "Nós cantávamos em Belo Horizonte e pelo interior. Tínhamos uma Kombi e pegávamos estradas de terra. Quando encalhava, tínhamos todos de empurrar. Também cantei em boates, quando vim pra São Paulo. Em cada lugar, pediam uma música. Em Três Pontas, era "Castigo". Na maioria dos outros lugares, era "Frenesi"."

CANTANDO AOS 14 ANOS - "Meus pais me deixavam cantar na noite. Eu e Wagner Tiso. Quando chegava o pessoal do juizado de menores, nós corríamos para a cozinha e nos deliciávamos com as batatinhas (risos). Meu primeiro repertório era de músicas cantadas por mulheres. Eu não gostava de homem cantando. Quando troquei de voz, fiquei com medo de perder o que eu tinha. Até ouvir Ray Charles cantando, um homem cantando com o coração."

DEPOIS DO GRAMMY - "Mudou muito minha carreira, depois que ganhei o Grammy. Aumentou muito a procura por shows. Antes, eu só era conhecido, nos Estados Unidos, pelo pessoal que curtia jazz. Grammy é como o Oscar."

EARTH, WIND & FIRE - "Em 1974, o Wayne Shorter gravou um disco comigo, nos EUA. Há poucos anos, eu estava num hotel americano, quando um cara começou a me chamar. Era o M. White, do Earth, Wind & Fire. Ele me disse que há tempos queria me encontrar para agradecer. Segundo ele, eles montaram a banda por causa do meu disco, da voz em falsete. Ele disse que colocou um anúncio no jornal para pegar alguém que cantasse em falsete, como eu. Quase desmaiei de emoção (risos)."

A SAÚDE - "Minha saúde está boa. Não tem perigo de mais nada. Os médicos nunca tinham visto uma recuperação tão rápida. Era diabete 2, mas agora já diminuiu."


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