São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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Tramas da história

Pinacoteca apresenta mostra com 26 peças da "Arte da Tapeçaria"

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

De múltiplas histórias e dupla função, a tapeçaria se moldou principalmente aos cômodos largos da nobreza européia, contando feitos heróicos humanos ou mitológicos, dando forma e calor a temas religiosos ou retratando cenas de campanha que agradavam a quem podia pagar por elas.
Vindos do Petit Palais, em Paris, 26 exemplares da "Arte da Tapeçaria", produzidos entre os séculos 15 e 18, podem ser vistos a partir de hoje na Pinacoteca do Estado, em SP, e, além de narrar feitos alheios, têm sua própria carga de histórias para contar.
A peça mais antiga da coleção, "História de Alexandre e Nicolau" (c. 1480), justapõe seus personagens para ilustrar a batalha entre Alexandre, o Grande, e Nicolau, rei da Cesaréia.
Lado a lado, as cenas, inspiradas em iluminuras do manuscrito "Fatos e Conquistas de Alexandre, o Grande", também do século 15, narram desde a gênese da batalha até a morte de Nicolau, em pouco mais de oito metros de comprimento.
A partir do século seguinte, acompanhando os movimentos da pintura, as tapeçarias ganham profundidade e paisagens mais complexas. A influência da pintura também faz a tapeçaria emular a moldura através de uma ornamentação na borda da peça.
"Através das cenas e paisagens, as paredes pareciam quase abolidas. As tapeçarias serviam ao aquecimento dos ambientes e também ao deleite das pessoas que ali ficavam, por transportá-las a outros mundos", diz Gilles Chazal, diretor do Petit Palais e curador da exposição.
Produzidas a partir de cartões freqüentemente desenhados a partir de obras de grandes pintores, as tapeçarias podem existir em diversas versões, como ocorre com "Ulisses Matando Javali no Monte Parnaso", tecida por volta de 1600. No Museu do Louvre, o "Mês de Dezembro" da série "Caçadas de Maximiliano" traz o mesmo tema tecido entre 1531 e 1533, com modelos de Bernard van Orley. "Ulisses" tem seus cartões atribuídos a Michel Coxcie, discípulo de Van Orley. Outra tapeçaria do mesmo tema, de 1650, está no Palácio Real de Madri.
A série "História de Moisés", produzida na mais célebre das manufaturas, Gobelins, fundada por Luís 14, aparece na mostra através de peças do início do século 18, "A Sarça Ardente" e "Serpente de Bronze", que tiveram como modelos obras pintadas por Charles le Brun (1619-1690).
Além dos episódios da "História de Moisés", as tapeçarias religiosas também são representadas por "Degolação de São Protásio" (1655), parte de uma série de seis peças que a igreja de são Gervásio e são Protásio, em Paris, encomendou, em 1651, à manufatura das galerias do palácio do Louvre.
No século 18, as cores ganharam variedade e as dimensões foram encolhidas, refletindo os espaços menores em que deveriam ser encaixadas as tapeçarias. É também a época em que os temas camponeses fortemente idealizados passam a predominar, como nos curiosos e algo folclóricos "Jogos Russos", de Le Prince.
A mostra guarda espaço para um Gobelins, de coleção particular, feito a partir de um índio brasileiro de Albert Eckout.


A ARTE DA TAPEÇARIA. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/ 229-9844). Quando: hoje, das 11h às 14h; de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 25/7. Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados). Patrocinador: Renault.


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