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Mehldau toca Chico e elogia Simone
Pianista surpreendeu ao fazer versão de "O que Será (À Flor da Pele)", reproduzida quase nota por nota
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não faltaram surpresas
no concerto do pianista Brad Mehldau no
Auditório Ibirapuera, em São
Paulo, na sexta-feira. A maior
delas foi uma reverente versão
de "O que Será (À Flor da Pele)", de Chico Buarque, com a
melodia reproduzida quase nota por nota -algo raro nas interpretações do jazzista.
O mais curioso é que essa nova prova da admiração que
Mehldau costuma declarar pela
música brasileira não se deve à
gravação de Milton Nascimento, artista de grande prestígio
nos círculos do jazz, mas à da
cantora Simone.
Pouco antes de viajar para o
Brasil, Mehldau revelou à Folha que aprecia a intérprete.
"Descobri Simone no ano passado e foi como conhecer Sarah
Vaughan ou Dinah Washington. Ela tem uma identidade
forte, canta com muita paixão e
graça", derramou-se.
O tributo do norte-americano à música brasileira não parou por aí. Quando voltou ao
palco para o bis, Mehldau surpreendeu a platéia com uma
sensível interpretação de "Viver de Amor" (Toninho Horta),
canção que já havia tocado no
Tim Festival, em 2004.
O pianista pode ter desapontado fãs dos Beatles, deixando
fora do programa suas releituras, mas não frustrou os fanáticos pela banda Radiohead. A
quase solene versão de "Knives
Out" mostrou que seu trio até
ganhou mais vigor com a entrada do baterista Jeff Ballard.
Tocando dois standards do
jazz, Mehldau exibiu com brilho seu método de desconstrução. Tomou a sofisticada balada
"The Very Thought of You" como ponto de partida para longos improvisos. Já na romântica "All the Things You Are", seguiu o caminho inverso: como
se montasse um quebra-cabeça, improvisou pinçando fragmentos da melodia até recompor o tema original. O jazz norte-americano pode não viver
hoje uma de suas fases mais inventivas, mas Mehldau é uma
estimulante exceção.
BRAD MEHLDAU
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