São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/música

Platão canta a dor-de-cotovelo em SP

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para fazer um bom disco ou show, não existe fórmula ou manual. Às vezes, a despretensão é o caminho; uma boa voz e as músicas certas são suficientes.
Outras, uma boa idéia e um conceito fazem a diferença. Toni Platão -cantor da pouco lembrada banda de rock dos anos 80 Hojerizah e autor de três bissextos discos-solo, reconhecido na cena carioca- escolheu um caminho interessante. Para seu último disco com série de shows, ambos nascidos em 2006 com o nome de "Negro Amor", ele mergulhou em uma idéia simples e daí construiu seu conceito. A idéia era recuperar e interpretar canções da dor-de-cotovelo dos anos 70, em parte buscando inspiração no universo brega das rádios AM, em parte na elegância de arranjos intimistas, com repertório da música brasileira e do folk americano.
Assim, coexistem sob o ponto comum de sua interpretação blues, tango, soft-rock e MPB; músicas de artistas como Bob Dylan e Leonard Cohen, Márcio Greyck e Antonio Marcos, Jards Macalé e Mutantes.
É essencialmente um show intimista, para teatros pequenos. "Negro Amor" tem momentos ótimos e também os constrangedores. Platão, excelente cantor, é um esteta: variando entre sussurros, suspiros, malabarismos vocais, ele dá plasticidade a todas as músicas que interpreta. Em alguns momentos, até demais.
Muito mais forma que conteúdo, mais estética que emoção, ele injeta certa gravidade afetada em todas as canções -em vários momentos, utiliza recursos teatrais para buscar melancolia ou euforia que lhe faltam como intérprete.
A seu favor, tem o mérito de abraçar a cafonice natural daquelas canções com inteligência. Ao mesmo tempo, em certos momentos parece se esforçar demais para soar elegante, revelando certo esforço criativo caricato. "Movimento dos Barcos", de Macalé, e "Não Vou Mais Deixar Você Tão Só", de Antonio Marcos, são dos pontos altos do show, com arranjos marcados pelo silêncio e por uma sofisticação natural.
Quando o lado roqueiro aflora, certa mediocridade se revela -"Tudo que Vai", do repertório da banda Capital Inicial, é de longe o pior momento. Mas, ao final, o show no Crowne Plaza soma mais méritos do que pontos fracos. O fato de ele se revelar um talentoso intérprete masculino -algo incomum na música brasileira- e o ótimo conceito por ele abraçado deixam o espetáculo com criatividade acima da média.


TONI PLATÃO - NEGRO AMOR
Quando:
ter. e qua., às 21h; até 13/6
Onde: teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 0/xx/11/3289-0985)
Quanto: R$ 30
Avaliação: bom


Texto Anterior: Evento sobre letras tem seu início amanhã
Próximo Texto: João Gilberto sueco canta no Brasil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.