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Crítica/música
Platão canta a dor-de-cotovelo em SP
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para fazer um bom disco
ou show, não existe fórmula ou manual. Às vezes, a despretensão é o caminho; uma boa voz e as músicas
certas são suficientes.
Outras, uma boa idéia e um
conceito fazem a diferença. Toni Platão -cantor da pouco
lembrada banda de rock dos
anos 80 Hojerizah e autor de
três bissextos discos-solo, reconhecido na cena carioca- escolheu um caminho interessante.
Para seu último disco com
série de shows, ambos nascidos
em 2006 com o nome de "Negro Amor", ele mergulhou em
uma idéia simples e daí construiu seu conceito. A idéia era
recuperar e interpretar canções da dor-de-cotovelo dos
anos 70, em parte buscando
inspiração no universo brega
das rádios AM, em parte na elegância de arranjos intimistas,
com repertório da música brasileira e do folk americano.
Assim, coexistem sob o ponto comum de sua interpretação
blues, tango, soft-rock e MPB;
músicas de artistas como Bob
Dylan e Leonard Cohen, Márcio Greyck e Antonio Marcos,
Jards Macalé e Mutantes.
É essencialmente um show
intimista, para teatros pequenos. "Negro Amor" tem momentos ótimos e também os
constrangedores. Platão, excelente cantor, é um esteta: variando entre sussurros, suspiros, malabarismos vocais, ele
dá plasticidade a todas as músicas que interpreta. Em alguns
momentos, até demais.
Muito mais forma que conteúdo, mais estética que emoção, ele injeta certa gravidade
afetada em todas as canções
-em vários momentos, utiliza
recursos teatrais para buscar
melancolia ou euforia que lhe
faltam como intérprete.
A seu favor, tem o mérito de
abraçar a cafonice natural daquelas canções com inteligência. Ao mesmo tempo, em certos momentos parece se esforçar demais para soar elegante,
revelando certo esforço criativo caricato. "Movimento dos
Barcos", de Macalé, e "Não Vou
Mais Deixar Você Tão Só", de
Antonio Marcos, são dos pontos altos do show, com arranjos
marcados pelo silêncio e por
uma sofisticação natural.
Quando o lado roqueiro aflora, certa mediocridade se revela
-"Tudo que Vai", do repertório
da banda Capital Inicial, é de
longe o pior momento.
Mas, ao final, o show no
Crowne Plaza soma mais méritos do que pontos fracos. O fato
de ele se revelar um talentoso
intérprete masculino -algo incomum na música brasileira-
e o ótimo conceito por ele abraçado deixam o espetáculo com
criatividade acima da média.
TONI PLATÃO - NEGRO AMOR
Quando: ter. e qua., às 21h; até 13/6
Onde: teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 0/xx/11/3289-0985)
Quanto: R$ 30
Avaliação: bom
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