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Gisele defende camisinha e direito ao aborto
"Sou a favor de a mulher fazer o que deseja de seu corpo", argumenta a modelo, que desfila hoje no Fashion Rio
Recém-chegada de Nova York, top afirma que governo Bush foi "péssimo" para os EUA e que a era das supermodelos acabou
ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
A megatop Gisele Bündchen
desembarcou ontem à tarde no
Rio, vinda de Nova York, e foi
para os estúdios onde iria fazer
as fotos da nova campanha da
Colcci, grife da qual é modelo
exclusiva no Brasil. Morta de
fome, pediu que, antes de mais
nada, ela pudesse almoçar.
Um farto bufê a esperava no
estúdio. Gisele, 27 anos, 1,80 m,
58 kg, fez então um megaprato,
fartando-se de carne-de-sol
desfiada, arroz, feijão preto,
lombo de porco, purê de mandioquinha e um pouco de salada. Ao final, como sobremesa,
comeu dois generosos pedaços
de torta de chocolate.
"Meu segredo para manter a
forma é que sou muito esportiva", conta Gisele na entrevista a
seguir, na qual diz que o governo George W. Bush foi "péssimo" para os EUA e que a era das
supermodelos acabou. Ela também defende o aborto e a camisinha. "A mulher deve ter o direito de decidir o que é melhor
para ela", afirma.
Gisele é a estrela do desfile da
Colcci, que acontece hoje no
Fashion Rio. Nos próximos meses, ela será destaque em três
revistas: a "Vanity Fair", a "W"
e a "Vogue" francesa.
FOLHA - Você sempre come tanto
assim?
GISELE BÜNDCHEN - Gente, depois
de tantas horas de avião, eu mereço dois pedaços de torta de
chocolate, não acha?
FOLHA - Mas como você faz para ficar tão em forma?
GISELE - Eu sou muito atlética.
Faço ioga às vezes duas, três vezes por semana, quando minha
agenda permite. Jogo vôlei em
Nova York com minhas amigas.
Parei de fumar há três anos. E
costumava correr, mas não corro mais, pois caí na rua em Nova York, voltando do supermercado com várias sacolas na
mão, e machuquei o joelho. O
segredo então é o seguinte: se
você quer comer, tem que fazer
esporte também. Não existe ser
humano que vai ficar com o
corpo bom sem malhar.
FOLHA - O Brasil está discutindo
muito o aborto ultimamente. Qual é
a sua posição a respeito?
GISELE - Sou a favor de a mulher
fazer o que deseja de seu corpo.
Fui a uma exposição em Nova
York que mostrava o interior
do corpo humano e também as
fases da gravidez. Até quatro
meses de gravidez, não existe
quase nada. É como um grãozinho. Portanto, acho que a mulher deve ter direito de decidir
o que é melhor. Se ela acha que
não tem dinheiro ou condição
emocional para criar uma
criança, como pode dar à luz? É
claro que a prevenção é a melhor coisa, mas existem situações que escapam ao controle.
FOLHA - A Igreja Católica é a principal opositora do aborto no Brasil,
bem como do uso de camisinha...
GISELE - Proibir camisinha é ridículo, basta pensar nas várias
doenças que são transmitidas
sem ela. Quando a igreja fez
suas leis, milhões de anos atrás,
a mulher era virgem, o cara era
virgem... Hoje em dia, ninguém
mais casa virgem. Me mostra
uma pessoa que seja virgem!
Acho que é obrigatório usar camisinha. Como é possível não
querer que se use camisinha e
que também não se faça aborto? É impossível, desculpa.
FOLHA - Já que falamos em casamento, você não vai se casar?
GISELE - Vou, um dia. O dia em
que eu souber quando, te conto.
FOLHA - Li que seu namorado [o jogador de futebol americano Tom
Brady] é simpatizante do Partido Republicano e que pensa em ser político. Vocês conversam sobre política?
GISELE - Ele nunca me falou sobre isso, e não gostaria de falar
sobre ele agora.
FOLHA - Nos EUA, você se sente
mais próxima dos republicanos ou
dos democratas?
GISELE - Prefiro não falar de política também. Eu tenho minhas idéias a respeito... Acho
que o importante em política é
ser honesto, independentemente de sua posição.
FOLHA - Você está há muito tempo
nos EUA. Na sua opinião, o governo
George W. Bush foi bom para o país?
GISELE - Não, foi péssimo. Basta
olhar o que está acontecendo
hoje em dia por causa dele, como tanta gente passou a odiar
os Estados Unidos.
FOLHA - Uma brasileira quase ganhou o concurso de Miss Universo.
Você não acha que esses concursos
são um tanto antiquados?
GISELE - Acho antigo, mas talvez para algumas pessoas isso
faça sentido. O que faz uma
miss? Juro que não sei. Nunca
me passou pela cabeça ser miss.
Miss é apenas um título, ser
modelo é exercer um trabalho,
são coisas muito diferentes.
FOLHA - Você não pensa em voltar
a desfilar com mais freqüência?
GISELE - Não. Desfilo no Brasil
porque é o meu país e porque as
semanas de moda estão crescendo por aqui, ganhando cada
vez mais visibilidade lá fora.
Desfilar é apenas uma fase na
carreira de uma modelo. Além
disso, acho que a energia dos
desfiles mudou muito. Atualmente, é bem mais difícil uma
modelo conseguir chegar a um
certo patamar. Penso que acabou a era das supermodelos. E
olha que tem brasileiras maravilhosas trabalhando, como a
Raquel Zimmermann, Carol
Trentini, Isabeli Fontana...
FOLHA - Há algum tempo, sites na
internet espalharam que você estaria grávida. É verdade?
GISELE - Supergrávida (ri, levanta a blusa e dá palmadas na
barriga). Imagina! É boato. O
dia em que eu ficar grávida, todo mundo vai ver. É claro que
quero ter uma família no futuro. Mas não nesse momento.
Tudo tem a sua hora e, agora, eu
estou... feliz da vida.
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