São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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"É o momento mais importante da TV latina"

Para Gaitán, criador de "Betty, a Feia", abertura dos EUA e da Europa dá "grande projeção" ao mercado latino-americano

Envolvido na produção americana "Ugly Betty", o colombiano fala à Folha sobre o segredo do sucesso da protagonista desajustada

CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

A experiência de ter sua idéia transformada na bem-sucedida série americana "Ugly Betty" e em outras 11 versões convenceu o colombiano Fernando Gaitán, 47, de que o mercado latino-americano passa por um momento único.
"Há uma abertura gigante, acredito que estamos vivendo o momento mais importante da televisão latino-americana, de grande projeção, de grandes alianças com as redes americanas, com a Europa", diz, em entrevista à Folha, o criador de "Yo Soy Betty, la Fea". Produzida na Colômbia em 1999, a telenovela foi exibida, na versão original, em outros 76 países (no Brasil, pela RedeTV!, entre 2002 e 2006).
Em São Paulo para o 9º Fórum Brasil - Mercado Internacional de TV, encontro que reúne 23 países até sexta, ele enfatiza a importância dos EUA nessa mudança no mercado. Para Gaitán, o interesse dos americanos no produto latino faz com que importem formatos para produção local e que grandes estúdios se instalem em território estrangeiro.
Atualmente, Gaitán está envolvido na versão latina da série "Grey's Anatomy" e na negociação para que outra novela sua, "Café com Aroma de Mulher", que foi exibida em 94 países (aqui, pelo SBT), ganhe também uma versão nos EUA.
"Eles estão abertos a outros produtos. No caso de "Ugly Betty", tem um significado ainda maior, porque a protagonista não só é feia mas é latina, e isso a faz mais marginal, mais rechaçada. E ela vive em um universo totalmente gringo, norte-americano. Essa situação da personagem da série critica a sociedade americana, o modelo da beleza, da imagem."
A "Betty" americana, produzida pela atriz Salma Hayek e exibida no Brasil pelo canal Sony, é a "mais diferente" das 12 versões para a telenovela, pois, transformada em série, precisou de mais alterações do que as outras. Curiosamente, é a única de que Gaitán participa oficialmente, como produtor.
Já o remake mais fiel, segundo ele, é o indiano, o primeiro a ser feito. "Apesar de ter vestuário e linguagem distintos, os atores são muito parecidos, os planos são de telenovela, praticamente os mesmos, o que me deixou muito surpreso", diz o autor. E "Betty" ainda irá à China e a um teatro da Broadway, projetos em fase de produção.

Vaidade e crítica
Mas qual é o segredo do fenômeno internacional?
Para seu criador, são três: a vaidade feminina, "universal, transcendental, tão importante nos EUA quanto no Brasil, no Japão, na China, em toda parte"; a identificação, "as pessoas se reconhecem"; e o humor, "que tem funcionado em todo o mundo, não é local".
E um elemento torna "Betty" única: "O fato de ser feia, um grande rompimento [em relação a outras telenovelas]".
Há ainda o aspecto de crítica social, feita para a Colômbia, mas que "afeta todo o mundo". O que pode ser atribuído à sua formação e experiência como jornalista. "Sou muito influenciado pelo novo jornalismo [gênero que mistura literatura e não-ficção], na investigação, na reportagem, na crônica, na visão da sociedade."
No Brasil, Gaitán quer pesquisar os lançamentos locais, porque "a produção brasileira está sempre inovando". Em especial nas telenovelas, "produto excepcional, caracterizado por duas coisas: temas avançados, que mudam muito, e o nível alto de produção".


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