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"É o momento mais importante da TV latina"
Para Gaitán, criador de "Betty, a Feia", abertura dos EUA e da Europa dá "grande projeção" ao mercado latino-americano
Envolvido na produção americana "Ugly Betty", o colombiano fala à Folha sobre o segredo do sucesso da protagonista desajustada
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
A experiência de ter sua idéia
transformada na bem-sucedida
série americana "Ugly Betty" e
em outras 11 versões convenceu o colombiano Fernando
Gaitán, 47, de que o mercado latino-americano passa por um
momento único.
"Há uma abertura gigante,
acredito que estamos vivendo o
momento mais importante da
televisão latino-americana, de
grande projeção, de grandes
alianças com as redes americanas, com a Europa", diz, em entrevista à Folha, o criador de
"Yo Soy Betty, la Fea". Produzida na Colômbia em 1999, a telenovela foi exibida, na versão
original, em outros 76 países
(no Brasil, pela RedeTV!, entre
2002 e 2006).
Em São Paulo para o 9º Fórum Brasil - Mercado Internacional de TV, encontro que
reúne 23 países até sexta, ele
enfatiza a importância dos
EUA nessa mudança no mercado. Para Gaitán, o interesse dos
americanos no produto latino
faz com que importem formatos para produção local e que
grandes estúdios se instalem
em território estrangeiro.
Atualmente, Gaitán está envolvido na versão latina da série "Grey's Anatomy" e na negociação para que outra novela
sua, "Café com Aroma de Mulher", que foi exibida em 94
países (aqui, pelo SBT), ganhe
também uma versão nos EUA.
"Eles estão abertos a outros
produtos. No caso de "Ugly
Betty", tem um significado ainda maior, porque a protagonista não só é feia mas é latina, e
isso a faz mais marginal, mais
rechaçada. E ela vive em um
universo totalmente gringo,
norte-americano. Essa situação da personagem da série critica a sociedade americana, o
modelo da beleza, da imagem."
A "Betty" americana, produzida pela atriz Salma Hayek e
exibida no Brasil pelo canal
Sony, é a "mais diferente" das
12 versões para a telenovela,
pois, transformada em série,
precisou de mais alterações do
que as outras. Curiosamente, é
a única de que Gaitán participa
oficialmente, como produtor.
Já o remake mais fiel, segundo ele, é o indiano, o primeiro a
ser feito. "Apesar de ter vestuário e linguagem distintos, os
atores são muito parecidos, os
planos são de telenovela, praticamente os mesmos, o que me
deixou muito surpreso", diz o
autor. E "Betty" ainda irá à China e a um teatro da Broadway,
projetos em fase de produção.
Vaidade e crítica
Mas qual é o segredo do fenômeno internacional?
Para seu criador, são três: a
vaidade feminina, "universal,
transcendental, tão importante
nos EUA quanto no Brasil, no
Japão, na China, em toda parte"; a identificação, "as pessoas
se reconhecem"; e o humor,
"que tem funcionado em todo o
mundo, não é local".
E um elemento torna "Betty"
única: "O fato de ser feia, um
grande rompimento [em relação a outras telenovelas]".
Há ainda o aspecto de crítica
social, feita para a Colômbia,
mas que "afeta todo o mundo".
O que pode ser atribuído à sua
formação e experiência como
jornalista. "Sou muito influenciado pelo novo jornalismo [gênero que mistura literatura e
não-ficção], na investigação, na
reportagem, na crônica, na visão da sociedade."
No Brasil, Gaitán quer pesquisar os lançamentos locais,
porque "a produção brasileira
está sempre inovando". Em especial nas telenovelas, "produto excepcional, caracterizado
por duas coisas: temas avançados, que mudam muito, e o nível alto de produção".
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