São Paulo, sexta-feira, 05 de junho de 2009

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Comédia de espionagem se baseia em "casos reais"

Diretor diz que "nada é inventado" em roteiro sobre golpes em empresas

Indicado ao Oscar por "Conduta de Risco", Tony Gilroy entrevistou agentes secretos para criar histórias absurdas sobre espiões


DA ENVIADA A NOVA YORK

Ao assistir a "Duplicidade", uma comédia de espionagem sobre o amor, como define o diretor, Tony Gilroy, o espectador pode achar exageradas ou até irreais as atitudes de Claire e Ray, personagens de Julia Roberts e Clive Owen.
Os dois interpretam agentes secretos que migram do governo (americano e britânico, respectivamente) para empresas privadas, onde usarão suas habilidades para tentar aplicar um golpe milionário. O que significa enganar até a própria sombra em busca de fórmulas confidenciais, embora triviais, como a de um molho de pizza.
Mas Gilroy, 52, indicado ao Oscar por "Conduta de Risco" (2007), afirma, acredite se quiser, que tudo o que escreveu é baseado em histórias verídicas, contadas a ele, em anos de pesquisa, por executivos, especialmente espiões que deixaram órgãos federais de inteligência em busca da remuneração mais gorda no setor privado.
"Se der um Google em "espionagem" ou "inteligência competitiva", você vai ver o grande número de respostas -há discussões, convenções, newsletters de espiões. Na superfície, eles só falam sobre o que é feito à luz do dia, na frente de todos. Mas não existe grande empresa que não tenha ao menos uma equipe de estratégia de defesa. As maiores têm também unidades de estratégia agressiva."
E os espiões, que muitas vezes trabalham contra a empresa que os contrata, estão loucos para compartilhar seus serviços ultrassecretos, diz Gilroy.
"Se eu os procuro, eles falam comigo. Não com você [que é repórter], nunca. Comigo, eles podem até mentir, trocar nomes. Mas, com a minha forma de fazer jornalismo, eles querem falar sobre o que fazem, porque não vou denunciar ninguém. As situações do filme podem parecer bobas, mas nada daquilo não aconteceu."
Gilroy refere-se, por exemplo, às atitudes do neurótico personagem de Paul Giamatti, um empresário que, em meio à sabotagem contra uma farmacêutica concorrente, chega a usar um clone de si mesmo para distrair os rivais.

Amor inventado
Já o romance entre Claire e Ray é um dos elementos que o diretor assume ter inventado para apimentar o roteiro.
Profissionais da mentira, eles passam o filme enganando um ao outro. "Eles são as versões masculina e feminina do mesmo papel", diz Julia Roberts, para quem "foi difícil ser tão séria e sofisticada no filme". "Acho que sou muito boba para ser tão séria", brinca.
Para o diretor, a relação do casal que "vive de não acreditar em ninguém" é um "raio-x, uma versão super-humana de todas as relações". "Os dois não conversam sobre namoro, não discutem a relação, estão em um plano mais alto."
A química com Clive Owen, testada antes em "Closer", foi uma solução para remediar a saída de George Clooney do projeto. Foi para o astro de "Conduta de Risco" que Gilroy escreveu o roteiro, pronto no início desta década.
Julia Roberts também chegou a se desligar da produção, grávida do terceiro filho, mas, aí, o diretor preferiu esperar. "Até pensamos em outras, mas nenhuma funcionaria tão bem quanto ela." (CRISTINA FIBE)


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