São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Choque de gestão André Sturm assume a direção do MIS e busca atrair mais público ao redefinir o foco da instituição
MORRIS KACHANI DE SÃO PAULO A recente indicação de André Sturm, ex-dono do Cine Belas Artes, para a direção do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo trouxe à tona um questionamento sobre o foco da instituição. A gestão anterior, apoiada por artistas como Regina Silveira e acadêmicos como Lucia Santaella (da PUC-SP), defendia uma reinvenção do museu com base na emergência das novas mídias tecnológicas, encorajando a experimentação em vários suportes e linguagens. Em outras palavras, pesquisa e arte conceitual. "O MIS sempre foi associado à vanguarda. E vanguarda hoje é pesquisar todas as linguagens depois do computador", diz Santaella. Andrea Matarazzo, secretário de Cultura, pensa diferente: "O MIS não pode ser tão hermético. Não se pode usar a verba de R$ 9 milhões para um público de só 80 mil pessoas, como em 2010". Assim, indicou Sturm ao conselho da organização social, entidade sem fins lucrativos contratada pela secretaria para administrar o MIS. A escolha de Sturm causou indignação e, semana passada, circulava uma petição pública somando quase mil assinaturas que falava em ingerência do governo e tentativa de transformar o MIS em "museu da televisão". Sturm é figura conhecida entre os ativistas culturais ligados ao cinema. Pioneiro na distribuição de filmes independentes, trouxe nos anos 90 obras de diretores até então desconhecidos, como Krzysztof Kieslowski e Theo Angelopoulos. Mais recentemente, esteve na unidade de Fomento e Difusão da Produção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, tendo se tornado praticamente um braço direito do ex-secretário João Sayad e do atual. Ele falou à Folha sobre seus planos. Folha - O que pretende fazer à frente do MIS? André Sturm - Oferecer programação de qualidade com muita gente interessada. Essa é a função do artista e do gestor cultural: tirar o que é bom do gueto. Fazer show da Ivete Sangalo e encher é fácil. O que sempre me orgulhou foi lançar um filme chinês como "2046" e deixá-lo um ano em cartaz. O que acha das diretrizes da antiga gestão do museu? O museu tem muito espaço e muitas possibilidades que não vinham sendo usadas. O trabalho anterior é de qualidade, mas muito restrito. Quantas pessoas se interessam por isso? Qual a repercussão social? Pretendo manter essa linha de novas mídias, mas quero fazer outras coisas também. Como, se houve um corte de 25% da verba aproximadamente, de 2010 para 2011? Vai ter que rever, eventualmente corrigir algumas questões. A missão é preservar o que existe e apontar para a frente. Só não dá para ficar apenas na vanguarda pela vanguarda, acho meio vazio. Dê um exemplo. Ontem fui dar uma volta completa no museu. Visitei o tal do LabMIS, que eu não sabia o que significava. Quando perguntei, me responderam: "É um conceito". E o que é? Trata-se de uma residência para quatro pessoas ficarem ali por três meses. Não tenho nada contra. Mas por que não receber 2.000 pessoas para fazer uso daqueles equipamentos maravilhosos em aulas e oficinas? Há ilha de edição, computadores incríveis, softwares de animação, estúdio. Um projeto que pretendo realizar é um festival de videoclipes que não foram para a MTV. Vai ter de tudo. Som contemporâneo, comum... E fotografia? Não sou profundo conhecedor, mas é uma área que adoro. Pretendo dar muita visibilidade ao acervo e abrir o MIS para exposições. E na área de cinema? Festivais como É Tudo Verdade e a Mostra de Cinema devem ampliar sua participação. Apoiaremos os programas do governo. E pretendo exibir filmes mudos com música ao vivo no MIS. Você é dono de uma distribuidora e produtora de filmes, e tinha salas de cinema. Não há conflito de interesses? O Gil era ministro da Cultura e tinha uma empresa que se beneficiava da Lei Rouanet. É só um exemplo, não estou criticando ninguém. Meus negócios recuaram muito desde que entrei na secretaria. Não concorri em editais e só distribuí filmes sem relação com a secretaria. É um preço a pagar. Você enxerga ingerência do governo em sua nomeação? Não. Acho que é função do Estado estabelecer políticas e metas. Cabe à OS administrar e dar andamento a isso. Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |