São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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"Só se faz uma novela na vida", diz Ary Fontoura

Mesmo 27 anos após a novela ter ido ao ar, "seu" Nonô ainda é personagem mais lembrado pelo público

Para artista, tecnologia venceu interpretação na TV e é preciso apostar em tramas ainda quando a audiência cai

SAMIA MAZZUCCO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

São 60 anos de carreira no teatro, no cinema e na TV, em que fez mais de 40 novelas, e não tem jeito: o avarento Nonô Correia, que foi ao ar há 27 anos na novela "Amor com Amor se Paga" (Globo) ainda é o personagem mais lembrado de Ary Fontoura, 78.
"Foi a novela mais popular que fiz. Se tivesse que ter outro nome, seria "seu Nonô'; até hoje me chamam assim nas ruas", conta Fontoura.
Há 46 anos na Globo, o ator deu vida a inúmeros personagens de caráter duvidoso e vilões. O mais difícil? "Seu Nonô, pela quantidade de texto que tinha. Aquele estresse até hoje me persegue."
Mas Silveirinha, o mordomo duas caras de "A Favorita" (2008) não fica atrás. "Foi um personagem construído no dia a dia, com muito sofrimento e negação."
As escolhas por papéis, conta, se baseiam "pelo que aparecer e eu souber fazer". Mas, para poder escolher, claro, o caminho foi longo.
Natural de Curitiba, Fontoura começou a carreira no teatro. Em 1964, foi para o Rio. Chegou no dia 31 de março, em pleno golpe militar. "Péssimo para chegar e para sair, uma merda", resume.
Trabalhou como cozinheiro e taxista para complementar os bicos de atuação.
A estreia na Globo aconteceu no ano seguinte, na minissérie "Rua da Matriz", a convite de um diretor que o conhecia do teatro.
O primeiro contrato, no entanto, só saiu quando ameaçou deixar a novela "O Cafona" (1971) se não recebesse um aumento.
Assinou contrato de um ano, que nunca deixaria de ser renovado, mas só largou o táxi nove meses depois. "Era ótimo, porque todo mundo me reconhecia. Ganhei dinheiro e comprei meu primeiro apartamento."
Com média de uma novela por ano, dedicar-se ao teatro e ao cinema é difícil. "Gosto de um de cada vez", justifica.
Da sinceridade na vida e na interpretação, ele diz nunca abrir mão. É cheio dela que critica a produção acelerada da TV e a falta de emoção nas interpretações.
"O que vale são cenas tecnicamente perfeitas e nem sempre o ator está bem."
Mantém a posição quanto às mudanças de folhetins para recuperar ibope. "Morde & Assopra", trama das 19h da Globo em que faz o prefeito Isaías, é o mais recente caso.
"Tem que acreditar na obra, apostar. Quando há uma interferência muito grande é um mau sinal", diz.
Para ele, pode-se tentar mudar o jeito de contar as histórias, mas os ganchos das novelas "são sempre os mesmos, eternos". "O Lima [Duarte] sempre diz que a gente só faz uma novela a vida inteira. E eu concordo."


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