São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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CRÍTICA DVD

Documentário eleva a vida dos insetos à classe do espetáculo

"Microcosmos" revela preocupações comuns à ficção, como com a "mise-en-scène" e com a direção de atores


O INSIGNIFICANTE SE MOSTRA MAGNÍFICO. O UNIVERSO APARECE SOB OUTRA LUZ: DIANTE DA GRANDEZA INFINITA DO UNIVERSO, O QUE PODE DEFINIR A REAL DIMENSÃO DOS SERES VIVOS?


CRÍTICO DA FOLHA

Comecemos pelo "making of", que por uma vez não é uma peça publicitária.
Longe disso: ali, Claude Nuridsany e Marie Pérennou explicam desde seus objetivos ao filmar "Microcosmos" (levar o espectador para o mundo dos seres minúsculos) aos procedimentos técnicos que permitiram esse documentário belíssimo.
De fato, um dos melhores dos últimos tempos, após três anos de filmagem e mais dois dedicados à preparação.
Mais do que isso, esses 12 minutos nos introduzem à noção de "mise-en-scène": preparar cenário, luz, criar ou recriar o ambiente onde o "ator" se sinta à vontade.
O ator, com ou sem as aspas (será mais justo dizer: sem), é quase sempre temperamental. Até faz o que os diretores querem, mas apenas quando ele próprio quer. Cada um tem seu próprio temperamento, explicam: é preciso segui-los.
Depois, há que dispor a câmera. Deixá-la fluidal o bastante -com a ajuda de equipamentos fabricados especialmente para a filmagem- para acompanhar os deslocamentos dos insetos.
Em suma, filmar os insetos, seu comportamento, seus dramas (a alimentação, a sobrevivência etc.), aprendemos, não é diferente de fazer um filme de ficção.
Há necessidade de compreender o assunto com o qual se lida, tanto quanto os seres (humanos ou não) que se pretende captar.
Depois é que vêm a paciência e a técnica, também indispensáveis.
Os autores do filme definem o mundo dos insetos como um planeta. A metáfora está longe de ser inexata.
Trabalha-se com outros seres, com outras lógicas, com outro tipo de imagens. Elas são, não raro, magníficas, na medida em que as proporções são totalmente distorcidas. O que era mínimo aos nossos olhos ocupa a tela inteira, enorme.
O que parecia insignificante se mostra grandioso, quando não belíssimo. O universo aparece sob outra luz: diante da grandeza infinita do Universo, o que pode definir a real dimensão dos seres vivos? (A pergunta vem do filme "O Incrível Homem que Encolheu", de Jack Arnold).

GENTE COMO A GENTE
Nuridsany e Pérennou não caem na tentação de reduzir seus personagens à proximidade com os humanos.
Nascer, sobreviver e reproduzir são, no entanto, funções que compreendemos, que nos abrem para um mundo que existe junto ao nosso, mas sempre ignorado.
"Microcosmos" não permite que esse mundo seja assimilado ao nosso, como fazem as animações, mas evita também a distância, digamos, "científica" que teria um filme que tentasse parecer uma aula de zoologia.
Prefere ser, afinal, uma ilustração do que é o próprio cinema, ao dar à vida desses insetos a dimensão de um espetáculo, belíssimo por sinal, a eles próprios, o papel de atores, e aos realizadores, o de encenadores sensíveis desse drama natural.
(INÁCIO ARAUJO)



MICROCOSMOS
DISTRIBUIÇÃO Versátil
QUANTO R$ 37,50, em média
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo



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