|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Troca cultural é problemática no Mercosul
INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Florianópolis
Aos poucos, o 3º Florianópolis
Mercosul Cultural vai revelando a
precariedade da união dos países
do Cone Sul, pelo menos do ponto
de vista da produção cultural.
Os países integrantes do bloco
(Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai) e o Chile têm problemas e interesses quase sempre diferentes.
Assim, na ótica de Beatriz Flores,
representante dos produtores de
cinema uruguaios, a hipótese de
promover co-produções é decisiva: num país com pouco mais de 3
milhões de habitantes, a hipótese
de uma cinematografia autônoma
é praticamente inviável.
As coisas são bem diferentes para o Brasil, por exemplo: com um
enorme mercado consumidor, a
questão-chave para seus cineastas
é formular uma política que lhes
permita disputar esse mercado.
A Argentina, que poderia manter
uma relação de troca razoavelmente equilibrada com o Brasil,
também não cai de amores pela
possibilidade de co-produzir com
o Brasil, já que o custo médio do
filme brasileiro é bastante superior
ao do argentino, o que forçaria os
produtores argentinos a investir
mais para ter uma porcentagem
menor dos filmes.
Tudo isso ameaça transformar a
sucessão de mesas do seminário
que se realiza em Florianópolis numa sequência de monólogos, em
que as dificuldades parecem bem
mais evidentes do que os pontos de
contato.
Daí fazer sentido a indagação
lançada por Mauro Garcia, da TVE
do Rio: "O que nós somos? Uma
colcha de retalhos ou países com
experiências comuns a trocar?".
Se a idéia é trocar automóveis,
palmito ou vinho por preços mais
acessíveis, o bloco comercial faz
sentido imediatamente. A produção cultural, ao contrário, supõe a
existência de uma política de bloco, além de um longo trabalho de
reconhecimento (e mesmo afeição, pode-se dizer) dos vizinhos.
Se não servisse para mais nada, o
3º FMC valeria para constatar
quanto essa ação de longo prazo
ainda está longe de ser uma realidade (e quanto nós, do Mercosul,
não sabemos "quem somos").
Cinema e TV
Daí as discussões sobre a necessidade de aproximação entre cinema e televisão, no Brasil, darem a
impressão de ser mais proveitosas
a curto prazo. A entrada da TV por
assinatura no país -e o aumento
de demanda de produtos audiovisuais- está forçando essa aproximação, apesar dos tropeços.
Um caso que ilustra bem essa
tendência é o de Petrus Barretto,
ex-diretor da Globosat e hoje consultor especializado em aproximar
os cineastas da TV. Ele vê nos cineastas um comportamento "informalíssimo", do ponto de vista
jurídico, em contraste com o formalismo das TVs.
Ainda assim, a tendência é a de
cinema e TV vencerem os percalços dessa primeira aproximação,
mesmo que para isso os cineastas
tenham que se adequar até certo
ponto às necessidades específicas
de cada canal -aspecto para o
qual chamou a atenção Elisabeth
Ritto, diretora do canal GNT.
Seja pela ação do Programa de
Integração Cinema-TV, da TV
Cultura, seja por intermédio da
Globosat, o certo é que essas duas
tradições, que no Brasil até há pouco se repeliam mutuamente, se
vêem na contingência de caminhar
uma na direção da outra -se possível evitando uma colisão.
Texto Anterior: Evento reúne escritores em RS Próximo Texto: Premiação/EUA: MTV Movie Awards acontece hoje Índice
|