São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro tenta colocar ordem no caos

RENATO ROSCHEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Está difícil entender o que é ser punk hoje? Junte vegetarianismo, pacifismo, mídia alternativa, bandas de garagem, gravadoras independentes, luta pelo direito das mulheres, dos gays e contra o racismo, ecologia e algumas lojas do McDonalds depredadas e você terá uma idéia do que é o movimento atualmente, segundo o recém-lançado livro "A Filosofia do Punk Mais do que Barulho", da editora Radical Livros.
Escrita pelo norte-americano Graig O'Hara, a obra é uma coletânea da multifacetada e paradoxal cena punk. Em entrevista concedida à Folha, O"Hara falou de sua esperança no futuro e -por que não?- criticou a MTV.

 

Folha - Os Sex Pistols diziam: "não há futuro". Na sua opinião, há um futuro?
Graig O'Hara -
Claro que há um futuro! Sempre haverá esperança e a necessidade não apenas para um "futuro", mas para um futuro melhor. Porém, o futuro (e o presente) que nos oferecem são determinados por regras, por militares, por policiais e por uma espécie de cultura da passividade. Contudo, isso não é o suficiente para fazer com que os otimistas desistam, encolham ou aceitem tudo passivamente. O futuro pode ser diferente. É isso que propõem eventos como o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.

Folha - Você acredita que o movimento punk seja possível em uma sociedade como a nossa?
O'Hara -
Se isso não fosse possível, nós não estaríamos aqui conversando. O movimento punk em um país capitalista como os EUA tem historicamente atuado de forma contrária a este sistema. Nós fazemos coisas que estão fora das práticas do mercado capitalista. O capitalismo pode colocar um rosto alegre em um pedaço de merda e vendê-lo, porém, a merda continuará sendo merda e continuará fedendo. Depois que a MTV tornou a música punk mais acessível, com bandas vendendo milhares de CDs, o verdadeiro punk ficou cada vez mais underground. O capitalismo quer vender tudo, colocar um preço em tudo, até na vida humana. O punk é contra a mercantilização da vida e das criações humanas.

Folha - Por que um movimento que, segundo seu livro, é ligado à luta pelos direitos humanos é tido por boa parte da mídia como racista, violento e homofóbico?
O'Hara -
Eu não penso o punk como um movimento violento. Talvez o visual diferente, a música rápida e alta, a raiva e o sarcasmo das letras punks sejam coisas com as quais a mídia "politicamente correta" tenha dificuldade em lidar. O punk nunca foi um lugar para pessoas bem comportadas e de moral puritana.


Filosofia do Punk Mais do que Barulho
Autor:
Graig O"Hara
Editora: Radical Livros
Quanto: R$ 34 (200 págs.)


Texto Anterior: Punks divergem no presente e no passado
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.