São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA

Vídeos experimentais revelam complexidade de Warhol

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O fascínio de Andy Warhol por Hollywood é conhecido. Foi com a série sobre a atriz Marilyn Monroe, realizada em 1962, no ano de sua morte, que Warhol (1928-1987) ganhou fama e se tornou um dos mais populares artistas dos EUA do século 20, já que até então era figurinha carimbada só da alta sociedade nova-iorquina.
A obra com Monroe era simples: a apropriação de uma foto da artista jovem e no auge da carreira, impressa como serigrafia em telas e sobreposta com cores fortes. Em alguns trabalhos dessa série, a imagem se multiplica por dezenas de vezes. Começava então um ciclo dentro da arte pop, de culto à celebridade e do abuso das cores, copiado até hoje.
Entretanto, no mesmo período que edificava seu culto às estrelas, entre elas Liza Minelli e Jackie Kennedy, Warhol as desconstruía, assim como questionava os padrões hollywoodianos.
É disso que se trata "Andy Warhol: Motion Pictures", em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Com 43 projeções reunidas para criar uma única instalação, a forma expositiva não era a intenção do artista, mas foi uma boa saída dos curadores Mary Lea Bandy e Klaus Biesenbach.
Afinal, seria impossível alguém assistir, por 99 minutos, ao poeta Henry Geldzahler fumar um charuto ou a outros 99 minutos do mesmo personagem dormindo, ambos do grupo de seis filmes mudos de Warhol apresentados, além dos 37 "screen tests".
Com a instalação proposta pelos curadores, o visitante pode compreender melhor a poética de Warhol de questionar o culto à celebridade, dando um caráter ambivalente à sua própria obra. É o que ocorre nos "screen tests" (testes para exibição), quando o artista flagra personalidades de Nova York por três minutos, como a modelo Donyale Luna.
Se por um lado Warhol festejou a indústria do entretenimento ao realizar suas obras pops, glamorizando ainda mais personagens famosos, nos "screen tests" a operação é inversa. Ele flagra momentos íntimos de personalidades e ainda os desacelera -os filmes foram rodados em três minutos e são exibidos em quatro. Com isso, o artista ironiza o próprio culto, pois retira a aura das celebridades e as expõe no formato de teste, algo constrangedor para quem é famoso. Além do mais, feitos em preto-e-branco, os filmes, que Warhol considerava seu "melhor trabalho", formam forte contraste à cor pop de suas serigrafias.
Já nos filmes mudos, é o próprio cinema que é questionado por Warhol, pois ele retira o fascínio da imagem em movimento ao apresentar situações banais e cotidianas sem ápice, sejam de beijos, de fumar um charuto ou da imagem do Empire State Building. Em todos, não há apogeu ou cena eletrizante, tudo é contínuo, aparentemente tedioso, ao contrário do que propõe Hollywood.
O conjunto, assim, revela uma faceta conceitual não tão conhecida do mestre pop, mas uma espécie de outro lado da mesma moeda. Afinal, fundamental para a criação é a pesquisa e, no caso de Warhol, com a exposição "Motion Pictures", o artista se revela um grande experimentador.


Andy Warhol: Motion Pictures
    
Onde: MAM (parque Ibirapuera, portão 3, São Paulo, tel. 0/xx/11 5549-9688)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h; até 14/8
Quanto: R$ 5,50 (estudantes pagam meia-entrada)


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