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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA
Vídeos experimentais revelam complexidade de Warhol
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O fascínio de Andy Warhol por
Hollywood é conhecido. Foi com
a série sobre a atriz Marilyn Monroe, realizada em 1962, no ano de
sua morte, que Warhol (1928-1987) ganhou fama e se tornou
um dos mais populares artistas
dos EUA do século 20, já que até
então era figurinha carimbada só
da alta sociedade nova-iorquina.
A obra com Monroe era simples: a apropriação de uma foto da
artista jovem e no auge da carreira, impressa como serigrafia em
telas e sobreposta com cores fortes. Em alguns trabalhos dessa série, a imagem se multiplica por
dezenas de vezes. Começava então um ciclo dentro da arte pop,
de culto à celebridade e do abuso
das cores, copiado até hoje.
Entretanto, no mesmo período
que edificava seu culto às estrelas,
entre elas Liza Minelli e Jackie
Kennedy, Warhol as desconstruía, assim como questionava os
padrões hollywoodianos.
É disso que se trata "Andy Warhol: Motion Pictures", em cartaz
no Museu de Arte Moderna de
São Paulo. Com 43 projeções reunidas para criar uma única instalação, a forma expositiva não era a
intenção do artista, mas foi uma
boa saída dos curadores Mary Lea
Bandy e Klaus Biesenbach.
Afinal, seria impossível alguém
assistir, por 99 minutos, ao poeta
Henry Geldzahler fumar um charuto ou a outros 99 minutos do
mesmo personagem dormindo,
ambos do grupo de seis filmes
mudos de Warhol apresentados,
além dos 37 "screen tests".
Com a instalação proposta pelos curadores, o visitante pode
compreender melhor a poética de
Warhol de questionar o culto à celebridade, dando um caráter ambivalente à sua própria obra. É o
que ocorre nos "screen tests" (testes para exibição), quando o artista flagra personalidades de Nova
York por três minutos, como a
modelo Donyale Luna.
Se por um lado Warhol festejou
a indústria do entretenimento ao
realizar suas obras pops, glamorizando ainda mais personagens famosos, nos "screen tests" a operação é inversa. Ele flagra momentos íntimos de personalidades e
ainda os desacelera -os filmes
foram rodados em três minutos e
são exibidos em quatro. Com isso,
o artista ironiza o próprio culto,
pois retira a aura das celebridades
e as expõe no formato de teste, algo constrangedor para quem é famoso. Além do mais, feitos em
preto-e-branco, os filmes, que
Warhol considerava seu "melhor
trabalho", formam forte contraste
à cor pop de suas serigrafias.
Já nos filmes mudos, é o próprio
cinema que é questionado por
Warhol, pois ele retira o fascínio
da imagem em movimento ao
apresentar situações banais e cotidianas sem ápice, sejam de beijos,
de fumar um charuto ou da imagem do Empire State Building.
Em todos, não há apogeu ou cena
eletrizante, tudo é contínuo, aparentemente tedioso, ao contrário
do que propõe Hollywood.
O conjunto, assim, revela uma
faceta conceitual não tão conhecida do mestre pop, mas uma espécie de outro lado da mesma moeda. Afinal, fundamental para a
criação é a pesquisa e, no caso de
Warhol, com a exposição "Motion Pictures", o artista se revela
um grande experimentador.
Andy Warhol: Motion Pictures
Onde: MAM (parque Ibirapuera, portão
3, São Paulo, tel. 0/xx/11 5549-9688)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h;
até 14/8
Quanto: R$ 5,50 (estudantes pagam meia-entrada)
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