São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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POLÍTICA CULTURAL

Em carta aberta, Daniela Bousso denuncia ausência de políticas públicas para a arte contemporânea

"Falta apoio à arte", acusa diretora do Paço

DA REPORTAGEM LOCAL

O ano de 2005 está sendo o das cartas-bomba no circuito das artes plásticas. Primeiro foi o então secretário municipal da Cultura Emanoel Araujo, que ao deixar o cargo, em 11 de abril passado, desancou a visão do poder público sobre a cultura. Agora, é a vez da diretora do Paço das Artes, Daniela Bousso.
Em carta enviada por e-mail a mais de 200 pessoas, na última semana, e divulgada no site da instituição (www.pacodasartes.sp. gov.br), Bousso denuncia a "ausência total de políticas culturais públicas para o exercício da arte contemporânea".
O desabafo tem por base a exposição em cartaz no Paço, "Ocupação", aberta no último dia 6 de junho, que em três turnos, o último começa hoje, apresenta o processo criativo de 70 artistas, transformando o local num ateliê aberto durante 45 dias. O evento, que comemora os 35 anos da instituição, a única do Estado dedicada exclusivamente à produção contemporânea, foi a "saída possível", segundo Bousso, já que o Paço não está pagando cachê aos artistas nem tampouco auxiliando na produção dos trabalhos, para comemorar a efeméride.
"Não havia dinheiro para a exposição, mesmo em 35 anos de existência, só temos financiamento para o básico, sequer temos dotação orçamentária", diz a diretora. Mesmo assim, atualmente até as linhas telefônicas do local não funcionam por problemas no cabeamento. No ano passado, o Paço recebeu R$ 400 mil do governo do Estado e, por patrocínio, cerca de R$ 1 milhão. "Este ano está muito mais difícil obter apoio", conta Bousso.
A mostra se tornou polêmica quando, em meados de junho, o blog do site Canal Contemporâneo (www.canalcontemporaneo. art.br/quebra), de Patrícia Canetti, uma das artistas que participa de "Ocupação", passou a receber ataques de pessoas contrariadas com o sentido da mostra.
"Por que o Paço da Artes e todos que estão envolvidos nesse evento, com a idéia de ocupação e com o reconhecimento da precariedade existente, imprimem esforços de mobilizar e organizar tanta gente, se utilizam do acesso a mídia que o meio cultural naturalmente tem, mas não realizam a ação em sua real potência transformadora?", questiona, por exemplo, Flavia Vivacqua. Já Daniel Manzione, em outra parte do blog, qualifica a exposição como "oportunista" e a ação dos artistas que dela tomam parte como "adesão leviana".
A carta, segundo Bousso disse, ontem, à Folha, foi escrita "para gerar uma consciência geral sobre a situação das instituições brasileiras. Uma boa gestão depende de encarar os problemas e enfrentá-los, inclusive alertando o próprio Estado sobre isso, realizando o debate com transparência".
No texto, a diretora afirma: "O projeto [...] pretende, isso sim, criar oportunidade de encontros e trocas entre os interessados na continuidade de uma instituição como essa, pois cabe à sociedade civil e ao meio artístico lutar pelos seus interesses".
Após a ocupação, Bousso organiza um simpósio, em conjunto com o Fórum Permanente: Museus de Arte, entre o Público e o Privado, que irá debater três eixos, com especialistas brasileiros e estrangeiros: o circuito (instituições, mercado e mostras); a produção e a reflexão; e a mídia.
O simpósio, "Padrões aos Pedaços", ocorre entre os dias 7 e 10 de agosto, e as inscrições, que podem ser realizadas no site da instituição, vão até o dia 22 de julho. Vem aí mais bomba. (FABIO CYPRIANO)


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