|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA CULTURAL
Em carta aberta, Daniela Bousso denuncia ausência de políticas públicas para a arte contemporânea
"Falta apoio à arte", acusa diretora do Paço
DA REPORTAGEM LOCAL
O ano de 2005 está sendo o das
cartas-bomba no circuito das artes plásticas. Primeiro foi o então
secretário municipal da Cultura
Emanoel Araujo, que ao deixar o
cargo, em 11 de abril passado, desancou a visão do poder público
sobre a cultura. Agora, é a vez da
diretora do Paço das Artes, Daniela Bousso.
Em carta enviada por e-mail a
mais de 200 pessoas, na última semana, e divulgada no site da instituição (www.pacodasartes.sp.
gov.br), Bousso denuncia a "ausência total de políticas culturais
públicas para o exercício da arte
contemporânea".
O desabafo tem por base a exposição em cartaz no Paço, "Ocupação", aberta no último dia 6 de junho, que em três turnos, o último
começa hoje, apresenta o processo criativo de 70 artistas, transformando o local num ateliê aberto
durante 45 dias. O evento, que comemora os 35 anos da instituição,
a única do Estado dedicada exclusivamente à produção contemporânea, foi a "saída possível", segundo Bousso, já que o Paço não
está pagando cachê aos artistas
nem tampouco auxiliando na
produção dos trabalhos, para comemorar a efeméride.
"Não havia dinheiro para a exposição, mesmo em 35 anos de
existência, só temos financiamento para o básico, sequer temos dotação orçamentária", diz a diretora. Mesmo assim, atualmente até
as linhas telefônicas do local não
funcionam por problemas no cabeamento. No ano passado, o Paço recebeu R$ 400 mil do governo
do Estado e, por patrocínio, cerca
de R$ 1 milhão. "Este ano está
muito mais difícil obter apoio",
conta Bousso.
A mostra se tornou polêmica
quando, em meados de junho, o
blog do site Canal Contemporâneo (www.canalcontemporaneo.
art.br/quebra), de Patrícia Canetti, uma das artistas que participa
de "Ocupação", passou a receber
ataques de pessoas contrariadas
com o sentido da mostra.
"Por que o Paço da Artes e todos
que estão envolvidos nesse evento, com a idéia de ocupação e com
o reconhecimento da precariedade existente, imprimem esforços
de mobilizar e organizar tanta
gente, se utilizam do acesso a mídia que o meio cultural naturalmente tem, mas não realizam a
ação em sua real potência transformadora?", questiona, por
exemplo, Flavia Vivacqua. Já Daniel Manzione, em outra parte do
blog, qualifica a exposição como
"oportunista" e a ação dos artistas
que dela tomam parte como "adesão leviana".
A carta, segundo Bousso disse,
ontem, à Folha, foi escrita "para
gerar uma consciência geral sobre
a situação das instituições brasileiras. Uma boa gestão depende
de encarar os problemas e enfrentá-los, inclusive alertando o próprio Estado sobre isso, realizando
o debate com transparência".
No texto, a diretora afirma: "O
projeto [...] pretende, isso sim,
criar oportunidade de encontros e
trocas entre os interessados na
continuidade de uma instituição
como essa, pois cabe à sociedade
civil e ao meio artístico lutar pelos
seus interesses".
Após a ocupação, Bousso organiza um simpósio, em conjunto
com o Fórum Permanente: Museus de Arte, entre o Público e o
Privado, que irá debater três eixos, com especialistas brasileiros
e estrangeiros: o circuito (instituições, mercado e mostras); a produção e a reflexão; e a mídia.
O simpósio, "Padrões aos Pedaços", ocorre entre os dias 7 e 10 de
agosto, e as inscrições, que podem
ser realizadas no site da instituição, vão até o dia 22 de julho. Vem
aí mais bomba.
(FABIO CYPRIANO)
Texto Anterior: Artes plásticas/Crítica: Vídeos experimentais revelam complexidade de Warhol Próximo Texto: Panorâmica - Teatro: Morre o dramaturgo inglês Christopher Fry, aos 97 Índice
|