São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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LITERATURA

1ª edição de livro de Walt Whitman terá nova tradução ao português

"Folhas de Relva" chega aos 150 anos

JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL

"O caráter nobre dos jovens mecânicos e de todos os trabalhadores e trabalhadoras livres da América... o entusiasmo e a simpatia e o empreendimento geral -a igualdade perfeita entre homem e mulher... a ampla amatividade- o movimento fluido da população -as fábricas e a vida mercantil (...) Para tudo isso a expressão do poeta americano deve ser transcendente e nova."
Assim definiu Walt Whitman em prefácio de 1855, e assim cumpriu. Estava aberta, para que a ampliasse e reescrevesse pelo resto de sua vida, a primeira edição de sua grande obra, "Folhas de Relva", que hoje faz 150 anos desde sua publicação em Nova York. O livro praticamente inaugura o verso livre e marca a história da literatura moderna e dos poetas do século seguinte, de Ezra Pound a Fernando Pessoa.
Para as comemorações, o mundo prepara festivais, conferências, exposições. O Brasil, mais tímido, promete uma publicação: a Iluminuras prevê para o segundo semestre a edição dessa primeira versão de "Folhas de Relva", com tradução do prefácio e dos 12 poemas que a constituíam -na oitava e última edição organizada pelo autor, em 1892, o livro, sem prefácio, contava 383 poemas.
"Trata-se da primeira aparição da persona literária de Walt Whitman. Claro que ele escreveu obras-primas e poemas belíssimos depois de 1855, mas a intenção agora é destacar o caráter revolucionário dessa primeira edição, que talvez seja a que tem sua voz e sua pegada mais marcadas", afirma Rodrigo Garcia Lopes, tradutor da obra e autor de uma introdução biográfica.
Não restam dúvidas quanto à revolução que impôs à poesia Walt Whitman, pregador de todas as liberdades, política, social, verbal, sexual. Para além do rompimento com a métrica, a rima e o decoro das formas rígidas, a atitude frente ao leitor já se apresenta de forma sem precedentes, descendo do altar que costumavam ocupar os poetas.
Whitman vai buscá-lo, o incita a participar, o aproxima do fazer poético: "Fique este dia e esta noite comigo e você vai possuir a origem de todos os poemas,/(...) Nada de pegar coisas de segunda ou terceira mão... nem de ver através dos olhos dos mortos (...)/E nada de olhar através dos meus olhos (...)/ Você vai escutar todos os lados e filtrá-los a partir de seu eu", escreve em "Canção de Mim Mesmo", poema que abre o livro de Walt Whitman.
Valendo-se da retórica dos reformistas e do paralelismo reiterativo da Bíblia, o poeta faz desfilar a diversidade da vida e de seu país, em longas enumerações e descrições líricas. Busca a nação à qual aspira, com seus imigrantes de todos os cantos, e a torna inspiração. Dessa forma, inaugura também uma poética marcadamente norte-americana.


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