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Abujamra reestréia arroubo pop em SP
Ator, diretor e apresentador de televisão revolve provocações auto-referentes com o monólogo "A Voz do Provocador"
Espetáculo volta ao cartaz hoje no Sesc Santana, às vésperas de ele lançar "Senhora Macbeth" na unidade da Vila Mariana
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao retornar de apresentações no interior paulista, Antonio Abujamra fica embasbacado com a receptividade de "A
Voz do Provocador", monólogo
auto-referente, com o qual viaja desde 2005. Escreve, dirige,
atua, não necessariamente nesta ordem.
"Os espectadores aplaudem
enlouquecidos, gritam, berram.
Eu termino o espetáculo dizendo: "Assim eu me sinto Mick
Jagger. Por favor, de joelhos, de
pé eu não quero mais". Sou um
ídolo no interior, seria eleito facilmente com 300 mil votos.
Lota tudo", diz Abujamra, 74.
Esse arroubo "pop" é tributado, principalmente, aos seis
anos do programa "Provocações", que ele apresenta na TV
Cultura. O monólogo volta ao
cartaz em São Paulo, a partir de
hoje, no Sesc Santana, às vésperas de Abujamra estrear sua co-direção da colega protagonista
Marília Gabriela em "Senhora
Macbeth", no próximo dia 14,
no Sesc Vila Mariana (SP).
O ator identificou-se com a
autora da peça, a argentina Griselda Gambaro, que também só
decolou a carreira literária
quando estava na casa dos 60
anos, justamente com a peça
"Senhora Macbeth", de meados
da década de 1970. Trata-se de
recriação da tragédia de Shakespeare sob o ponto de vista
da mulher do tirano do título.
Best-seller pornô
Abujamra conheceu Gambaro durante um festival em Caracas. "Diverti-me muito quando ela disse que era hora de ser
um sucesso e que não iria mais
escrever as coisas dela, mas sim
uma obra pornô para virar
best-seller. Escreveu "Lo Impenetrable", que não tem nada de
pornô. Ela é uma das melhores
autoras eróticas da América
Latina, e mesmo assim ninguém comprou o seu livro", diz.
De Gambaro, o Brasil já viu
montagens de "Dizer Sim"
(2000), texto encenado em São
Paulo por Márcia Abujamra,
prima, e "La Malasangre" (final
dos anos 80), no Rio, por Augusto Boal.
Sobre "Senhora Macbeth",
Abujamra fala do "lirismo que
nos esmaga", do "humor cáustico", da tentativa de mostrar a
verdadeira paixão de uma mulher por um homem, sem que a
ambição de Lady Macbeth seja
evidenciada até a última cena.
"São palavras-pétala com o
sentimento trágico do mundo",
diz o trovador Abujamra a respeito da dramaturgia de Griselda Gambaro.
O desafio da co-direção, que
assina com o uruguaio Hugo
Rodas, radicado no Brasil e lotado em Brasília, é fazer com
que a recriação dramatúrgica
de Gambaro, quando levada à
cena, não dependa do clássico
shakespeareano para ser compreendida. "É muito difícil."
Frases feitas
Uma conversa com ele é plena de citações. "É que são melhores do que a nossa conversa." Às vezes, frases propagadas
com brilho no olhar e na voz,
uma conjugação suspeita: "Eu
não agüento mais dizer poemas, entende? Se há um poema, o meu maxilar já se coloca e
já sai tudo direto e bonito, melhor que todo mundo, porque
declamo desde a juventude".
Abujamra diz que "A Voz do
Provocador" surgiu da necessidade de fazer um espetáculo
que dissesse o que ele pensa,
mostrasse coisas que ninguém
sabe, nem a platéia, sobre a televisão, por exemplo. "São coisas que nenhuma universidade
ensina. Eu falo sobre educação
de um modo que nem o Cristóvão Buarque fala. Falo coisas
violentas, fortes, boas, sempre
dizendo que é preciso se divertir neste país. Não dá para viver
sem humor neste país", afirma
Abujamra.
Fala, principalmente, sobre o
estado de loucura que, segundo
ele, domina nossa época. "Como a gente que possui razão pode cumprir todos os objetivos
de uma sociedade que nos leva
à loucura?", pergunta-se.
Para Abujamra, "o teatro é o
asilo de loucos, onde o público
vem à procura de sua razão".
Em determinado momento do
espetáculo, ele manda acender
a luz da platéia para enxergar os
incautos. "E aí eu começo a falar sobre a liberdade, essa palavra machucada. A garotada
pensa que é livre, mas não é. A
minha geração foi a da leitura,
não tinha a influência tão forte
da televisão."
Apesar do pendor pela palavra, ele contracena com imagens projetadas em um telão,
algumas extraídas do seu programa, e até mesmo com uma
foto sua, pendurada em um cartaz. Às vezes, se deixa entrevistar pelo público. Mas, ao cabo,
não dá outra: ele é o dono da
voz.
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