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Musical lembra teatro de revista
"Sassaricando" estréia no Tom Brasil apresentando quase cem marchinhas de Carnaval de Noel Rosa, Braguinha e outros
Espetáculo de Cláudio Botelho, que mostra o Rio antigo e seus personagens, chega a São Paulo depois de concluir temporada carioca
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O diretor Cláudio Botelho, do
musical "Sassaricando - e o Rio
Inventou a Marchinha" -que
estréia hoje no Tom Brasil-,
conta que, na temporada no
Rio, um neurologista receitava
o espetáculo a quem sofresse
do mal de Alzheimer. Dizia que
a peça, com suas mais de cem
marchinhas de Carnaval, ajudava a resgatar lembranças, estimulando parte do cérebro
responsável pela memória.
Sabe-se lá se algum caso deu
resultado. Mas esse mergulho
nos anos 30, 40 e 50, época dos
teatros de revista, dos bailes
conduzidos ao som de Noel Rosa, Lamartine Babo, Haroldo
Barbosa e Braguinha, de fato
atraiu um público bastante específico à temporada carioca.
Uma passada de olhos pela platéia varria sempre um mar de
cabeças brancas, grisalhas, de
cabelos tingidos e derivados.
Gente chorando no fim do espetáculo era bastante comum.
A peça é conduzida sem enredo. Apenas uma música costurada à outra, retratando o Rio à
moda antiga, como uma espécie de crônica da cidade. Desfilam pelas letras das canções
seus tipos mais comuns, o pai
bravo, o namorado ciumento, o
político, o malandro, a mulata,
o boêmio e até as típicas suspeitas preconceituosas (Olha a cabeleira do Zezé/será que ele é?/
será que ele é?).
O espetáculo nasceu de uma
vasta pesquisa do jornalista
Sérgio Cabral e da historiadora
Rosa Maria Araújo. As quase
cem canções que estão ali reunidas, divididas em dez blocos
(sobre dinheiro, comida, assuntos históricos, preconceitos,
Carnaval, família etc.), foram
garimpadas de um levantamento inicial, com mais de mil
marchinhas. "Bandeira Branca", "A Mulher do Leiteiro",
"Alá-lá-ô", "Corre, Corre, Lambretinha" e "Turma do Funil",
são alguns dos hits. "É pra cantar junto mesmo", diz Botelho.
A direção musical, de Luis Filipe de Lima, opta por um sexteto no fundo do palco. A banda
dá suporte para o elenco protagonizado por Eduardo Dussek
e Soraya Ravenle, ainda com os
cantores Ivana Domenico, Pedro Paulo Malta, Alfredo Del
Penho e Juliana Diniz na composição dos diversos tipos citados pelas canções.
"O gestual todo remete à revista brasileira, que acaba nos
anos 50", diz Botelho. Um bom
documento que arquiva esse
estilo de encenações, segundo o
diretor, são as produções para
cinema da extinta Atlântida,
com seus filmes de Carmem
Miranda, Grande Otelo e Oscarito. O cenário, de Charles
Möeller, recria as cenografias
da primeira metade do século,
com painéis art-decó, microfones de metal e banquinhos à
moda da era do rádio.
SASSARICANDO - E O RIO INVENTOU A MARCHINHA
Quando: estréia hoje. Qui.: 21h; sex. e
sáb.: 22h; dom.: 20h
Onde: Tom Brasil - Nações Unidas (r.
Bragança Paulista, 1.281, tel. 0/xx/
11/ 2163-2000)
Quanto: R$ 50 a R$ 120
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