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7ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY
Talese expõe-se ao falar de vida íntima
Jornalista norte-americano fica alterado ao responder questões sobre seu casamento, tema de seu próximo livro
Célebre repórter conta
como está reunindo cartas
e broncas dos 50 anos
de relação com a mulher,
a editora Nan Talese
MARCOS STRECKER
SYLVIA COLOMBO
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY
Depois de mais de uma hora
repetindo suas tão conhecidas
ideias sobre como escrever
boas histórias de não ficção, o
veterano Gay Talese viu-se
confrontado com os limites do
"new journalism", ao responder a perguntas sobre o livro
que está escrevendo e que trata
de seu casamento.
Em entrevista ao jornalista
Mario Sergio Conti, da revista
"Piauí", Talese contou como está reunindo cartas, bilhetes e
broncas dos 50 anos de relação
com a mulher, a editora Nan
Talese. O clima estava descontraído e o público dava risadas,
até o momento em que Conti
perguntou sobre até que ponto
valeria a pena expor-se tanto, e
mencionou uma reportagem
recente publicada na revista
"New Yorker" que dizia que o
livro trataria de inconfidências
e infidelidades dele e da mulher. Lembrou, ainda, que no livro "A Mulher do Próximo",
Talese havia relatado aventuras sexuais e o fato de que, para
a pesquisa, quase havia se
transformado num "cafetão".
Nitidamente alterado, Talese
disse que era verdade que havia
"humilhado" a mulher com o livro mencionado, mas que nunca deixou de acreditar ter tratado a relação com ela com respeito e delicadeza.
Talese começou sua fala contando como aprendeu a profissão na convivência com os pais.
Filho de um alfaiate italiano e
de uma vendedora de vestidos,
disse que os papos da mãe com
as mulheres do bairro acenderam sua curiosidade com relação a histórias de pessoas comuns. "Ela era uma repórter.
Sua loja era um talk -show. Eu
fazia serviços menores ali, mas
sempre escutava tudo."
O pai buscava mostrar-se assimilado à sociedade norte-americana e nunca falava italiano durante o dia. O fato de ele e
a mãe serem de um modo no
trabalho e de outro à noite,
quando estavam só os três, fez
com que se desse conta de que
as pessoas são "como edifícios
de dois andares, complexas".
Quando optou pela profissão
de jornalista, disse que queria
ser um escritor de histórias para jornal, mas não queria escrever sobre notícias. "Notícias
são óbvias." Seu interesse foi
sempre o de encontrar formas
diferentes de tratar das coisas
humanas.
Definiu sua estratégia de
apuração como a arte do "hang
out" (enturmar-se). Através
dessa intimidade com os personagens, disse, os elementos da
história surgem de modo mais
legítimo e eficaz.
Suas reportagens célebres foram lembradas. Sobre o perfil
de Frank Sinatra, que fez sem
falar com o cantor, mas sim
com as pessoas que o rodeavam, disse: "Ele não falaria comigo, mas eu também não queria falar com ele". Sobre a história de Lorena Bobbit e o marido, que a editora Tina Brown
recusou-se a publicar na "New
Yorker", demonstrou não ter
ficado ressentido, pois depois
pôde melhorar a história, com
mais tempo e tendo acesso a
mais personagens.
Talese apareceu com o visual
impecável com o qual já acostumou o público da Flip. Terno,
chapéu, meias combinando.
Nos últimos dias, seus passeios
foram a sensação da cidade e
ele deu mostras de sua célebre
curiosidade ao comparecer a
várias mesas e fazer anotações.
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