São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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7ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY

Talese expõe-se ao falar de vida íntima

Jornalista norte-americano fica alterado ao responder questões sobre seu casamento, tema de seu próximo livro

Célebre repórter conta como está reunindo cartas e broncas dos 50 anos de relação com a mulher, a editora Nan Talese

MARCOS STRECKER
SYLVIA COLOMBO
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY

Depois de mais de uma hora repetindo suas tão conhecidas ideias sobre como escrever boas histórias de não ficção, o veterano Gay Talese viu-se confrontado com os limites do "new journalism", ao responder a perguntas sobre o livro que está escrevendo e que trata de seu casamento.
Em entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti, da revista "Piauí", Talese contou como está reunindo cartas, bilhetes e broncas dos 50 anos de relação com a mulher, a editora Nan Talese. O clima estava descontraído e o público dava risadas, até o momento em que Conti perguntou sobre até que ponto valeria a pena expor-se tanto, e mencionou uma reportagem recente publicada na revista "New Yorker" que dizia que o livro trataria de inconfidências e infidelidades dele e da mulher. Lembrou, ainda, que no livro "A Mulher do Próximo", Talese havia relatado aventuras sexuais e o fato de que, para a pesquisa, quase havia se transformado num "cafetão".
Nitidamente alterado, Talese disse que era verdade que havia "humilhado" a mulher com o livro mencionado, mas que nunca deixou de acreditar ter tratado a relação com ela com respeito e delicadeza.
Talese começou sua fala contando como aprendeu a profissão na convivência com os pais. Filho de um alfaiate italiano e de uma vendedora de vestidos, disse que os papos da mãe com as mulheres do bairro acenderam sua curiosidade com relação a histórias de pessoas comuns. "Ela era uma repórter. Sua loja era um talk -show. Eu fazia serviços menores ali, mas sempre escutava tudo."
O pai buscava mostrar-se assimilado à sociedade norte-americana e nunca falava italiano durante o dia. O fato de ele e a mãe serem de um modo no trabalho e de outro à noite, quando estavam só os três, fez com que se desse conta de que as pessoas são "como edifícios de dois andares, complexas".
Quando optou pela profissão de jornalista, disse que queria ser um escritor de histórias para jornal, mas não queria escrever sobre notícias. "Notícias são óbvias." Seu interesse foi sempre o de encontrar formas diferentes de tratar das coisas humanas.
Definiu sua estratégia de apuração como a arte do "hang out" (enturmar-se). Através dessa intimidade com os personagens, disse, os elementos da história surgem de modo mais legítimo e eficaz.
Suas reportagens célebres foram lembradas. Sobre o perfil de Frank Sinatra, que fez sem falar com o cantor, mas sim com as pessoas que o rodeavam, disse: "Ele não falaria comigo, mas eu também não queria falar com ele". Sobre a história de Lorena Bobbit e o marido, que a editora Tina Brown recusou-se a publicar na "New Yorker", demonstrou não ter ficado ressentido, pois depois pôde melhorar a história, com mais tempo e tendo acesso a mais personagens.
Talese apareceu com o visual impecável com o qual já acostumou o público da Flip. Terno, chapéu, meias combinando. Nos últimos dias, seus passeios foram a sensação da cidade e ele deu mostras de sua célebre curiosidade ao comparecer a várias mesas e fazer anotações.


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