|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O cantor Marcelo D2,
29, nascido no morro
do Andaraí (RJ), fala
sobre pop militante e
os eternos problemas
que seu grupo
enfrenta com a polícia
Planet Hempa!!!!
Patrícia Santos/ Folha Imagem
|
Integrantes do Planet Hemp (Marcelo D2 à frente), que voltam a enfrentar problemas com a polícia durante turnê, por defender o uso da maconha
|
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A guerra continua. Há menos de
um mês do início da turnê nacional de seu novo CD, a banda carioca Planet Hemp, defensora efusiva
da maconha, teve na última semana dois shows que faria em Salvador proibidos pela juíza da 1ª Vara
de Tóxicos da cidade.
"O delegado resolveu que a gente não ia tocar na terra dele e pediu
a proibição. Foi uma coisa 'não
quero, não vai tocar e pronto', diz
Marcelo D2, líder da banda.
Primeiro episódio da temporada, o cancelamento dá continuidade a uma série de incidentes constantes desde a estréia da banda em
disco, em 95.
Em entrevista à Folha acerca do
episódio, Marcelo D2, 29, dispôs-se a falar abertamente sobre
aquela que a banda continua considerando sua maior bandeira.
Folha - O que houve na Bahia?
Marcelo D2 - É sempre a mesma
coisa. O delegado Diz que fazemos
apologia às drogas, que falamos
que fumar maconha é gostoso.
Nunca falei isso nas letras.
O clima estava tenso, decidimos
cancelar os shows de Ilhéus e Porto
Seguro. Tinha um batalhão de polícia na frente do lugar onde a gente ia tocar, armado até os dentes.
Mas vamos voltar, vamos marcar
quantos shows forem necessários.
Folha - Não cansa a banda a
constância desses incidentes?
D2 - A gente escolheu isso. Não
vamos parar por aqui, não vamos
amolecer. É uma situação por que
estamos acostumados a passar
desde pequenos. Todo lugar em
que moro está cercado de polícia.
Folha - Tudo isso não se torna
também fonte de marketing?
D2 - Sinceramente, no fundo
funciona como marketing. Não é
um marketing que a gente deseje,
mas é um jogo sujo, cada um tem
que jogar com as armas que tem.
Tratamos dessa coisa sem demagogia, por ideologia. Nós acreditamos nisso. O que falamos não é baboseira, não vi na novela das oito.
É real, a parada acontece mesmo.
Quando escrevo letras, procuro
sempre incomodar as pessoas que
me incomodaram a vida toda, que
você vê vendendo arma, matando
neguinho atrás da kombi, se explicando porque roubou 600 milhões
não sei onde. O Planet foi feito para incomodar, da maneira que for.
Folha - Vocês fumam maconha?
D2 - Todos. Mas todo mundo já
passou da adolescência. Meu relacionamento com a maconha é o
mesmo que meu pai sempre teve
com o chope, de usar socialmente
com os amigos. Nunca tive relação
de vício com a maconha.
Folha - Você teve conflito com família por causa de maconha?
D2 - Não. A família nem percebe, ninguém percebe. Mas acho estranho você pensar que seu filho é
diferente de todos. Todo mundo
experimenta tudo na escola, como
todo mundo joga bola. Aí, quando
meus pais ouviram as músicas, eu
já não era mais filho, já era pai. Hoje fumo na frente da minha mãe.
Folha - Você fuma perto de seu
filho de 5 anos?
D2 - Fumo. Tem muito a culpa
dele nessa história toda. Resolvi
escrever sobre maconha quando
ele nasceu. Fiquei assustado, pensei que daqui a pouco ele está com
15 anos e tomando tapa na cara da
polícia como eu tomei.
Folha - Seu filho vai fumar?
D2 - Não sei, espero que se ele
decidir fumar isso não atrapalhe a
vida dele. Se bobear, ele nem vai,
porque já tem essa relação de ver.
A curiosidade dele vai ser bem menor que a minha.
Folha - Por que vocês não defendem as outras drogas?
D2 - A gente fuma maconha,
não usa outras drogas. Nossa bandeira é que achamos que não são as
drogas, mas a sua ilegalidade que
causa a violência, que traz as guerras de tráfico, a violência policial,
que faz garotos de 14 anos pegarem
armas. Queremos falar contra isso.
Folha - Você é a favor da legalização de todas as drogas?
D2 - Não. No caso do Brasil,
acho que ainda não estamos preparados. Vai levar muito tempo,
não temos ainda cultura para isso.
Folha - A postura de vocês incentiva o uso de maconha?
D2 - Acho que muito poucas
pessoas fumaram por causa do
Planet Hemp. Encontro fãs da
banda que não fumam e nem gostavam desse tipo de música, mas
que gostam do Planet por causa da
atitude, do som. Não acho que a
gente fez a maconha virar moda.
Folha - O Planet Hemp é representante isolado na música brasileira atual de banda ou artista que
pratica algum tipo de militância?
D2 - Às vezes, fico meio enojado quando vejo as paradas. É um
falando besteirinha aqui, outro
dançando não sei o quê lá, tudo
descartável. Cadê a música nessa
história, cadê sua essência, que era
levar alguma coisa de bom?
Folha - O Skunk, um dos integrantes da banda, morreu de Aids.
Esse tema não interessa a vocês?
D2 - Temos uns projetos beneficentes para 98, mas esse assunto
é muito delicado para a gente.
Nunca consegui escrever sobre,
juro que já tentei várias vezes, fico
até arrepiado de falar. Foi meu melhor amigo que morreu disso.
Folha - Você é a favor da legalização da união homossexual?
D2 - Eu sou a favor. Acho que
qualquer maneira de amar é válida
(ri do que disse).
Folha - E quanto ao racismo?
D2 - O Brasil é um país preconceituoso pra caramba. A gente toca
nesse assunto, mas não é tema
central. Sou o puro brasileiro, moreno. O preconceito que mais sofri
foi de ser pobre e morar na favela.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|