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CINEMA/"A ILHA"
Michael Bay copia "THX 1138" em longa sobre futuro pós-apocalíptico, mas abusa da violência banal
Ficção vulgariza filme de estréia de Lucas
THIAGO STIVALETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 1971, George Lucas fazia
sua estréia na direção com
"THX 1138", uma ficção científica
de tema sombrio em que os personagens viviam em um sistema
asséptico gerenciado pelo governo. Os pensamentos eram controlados, a liberdade era uma impossibilidade, e o amor, um crime.
O homem do título começa a ter
crises existenciais e, com sua mulher, desafia o sistema. A distopia
tinha claras influências de "Admirável Mundo Novo", de Huxley, e
de "1984", de George Orwell.
Agora, Michael Bay, de filmes
de ação medíocres como "A Rocha" e "Armageddon", atualiza e
vulgariza o filme de Lucas. "A
Ilha" mostra um futuro pós-apocalíptico em que sobreviventes
são levados a um centro de tratamento e habilitados para serem
enviados a uma ilha onde é armado o repovoamento do planeta.
Como em "THX", um protagonista inconformado de nome industrial, Lincoln Six-Echo (Ewan
McGregor), passa a desconfiar
desse universo utópico e descobre
o amor por Jordan Two-Delta
(Scarlett Johansson). Juntos, vão
liderar a resistência contra essa
superestrutura que sugere redenção, mas é voltada à destruição.
A atualização do filme de Lucas
é aqui a parte inteligente. No
mundo de hoje (ou melhor, no futuro concebido hoje), quem controla o sistema não é o governo,
mas uma grande corporação. O
mistério sobre a tal ilha envolve
clonagem e um experimento secreto que poderia ser a evolução
das pesquisas com células-tronco.
A vulgarização do original infelizmente está na alma do filme, na
direção. "THX 1138" criava um
universo opressor para o espectador à maneira do "2001" de Kubrick. "A Ilha" começa como ficção científica, mas logo se revela
um filme de ação. Aparecem as
perseguições, violência no mais
alto grau, os cortes rápidos, confusos e entorpecentes. Numa cena, o mentor do projeto diz que os
aspirantes a morar na ilha são
criados para manter a idade mental de 15 anos. "A Ilha" faz o mesmo com seus espectadores.
Mas a violência da idéia central
resiste até o final, fazendo esquecer (e perdoar) a violência banal.
O desfecho tem uma ironia mordaz que associa a opressão das raças do futuro com a exploração
histórica de outras raças em nosso
mundo. Bay continua medíocre,
mas nunca foi tão inteligente
quanto aqui. É seu sexto longa,
mas o primeiro longe da parceria
com Jerry Bruckheimer. Prova de
que um mau produtor em Hollywood tem o poder de sufocar diretores que têm lá seu potencial.
A Ilha
The Island
Direção: Michael Bay
Produção: EUA, 2005
Com: Ewan McGregor, Djimon Hounsou
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Iguatemi e circuito
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