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CDS
ELETRÔNICO
Disco de estréia do grupo, "Azul e Roxo", traz influências de trip hop
Dupla tara_code constrói climas sombrios em Salvador
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Demorou mais de sete anos
para que a banda tara_code
lançasse seu disco de estréia,
"Azul e Roxo", trabalho independente que explica, nas entrelinhas, muita coisa sobre o Brasil.
Antes de serem questionados
sobre questões musicais, ouvem
exclamações de surpresa e incredulidade ao falarem sobre suas
origens. O grupo vem de Salvador, Bahia, e não está interessado
na música festiva de axés e chicletes com bananas. Ao contrário, é
uma banda musicalmente amarga e dura de mascar, com experimentais colagens sonoras.
"Às vezes, dá vontade de parar
tudo e desistir, porque fazemos
uma música muito diferente do
que existe por aqui", diz a vocalista do tara_code, Andrea May, 39.
O grupo resume, assim, anos e
anos de práticas de uma fatia da
música feita no Brasil que idealiza
e busca referências do exterior.
Já que levaram quase uma década para estrear, diferentes influências moldaram seu espírito.
Já tiveram vários guias: do rock
britânico com letras em inglês às
instrumentações mântricas e
acústicas; encontraram identificação com o trip hop (a variante
da música eletrônica mais lenta e
soturna, com influências do hip
hop) e o post-rock (rock geralmente instrumental mais experimentalista, com pretensões artísticas e conexões com o free jazz).
Apesar de coerente e coeso, o resultado não deixa de ter um certo
ar nostálgico e algo passadista, já
que o trip hop, em particular, é
uma expressão que ficou mais associada aos anos 90. A dupla afirma que já superou essa fase, mas
em faixas como "Rum Cake", a
depressão do Portishead, em especial, se faz dominante, e homenagem se confunde com cópia.
"Todo meu referencial estético
vem daí: Londres e fumaça. Sou
apaixonada por São Paulo, amo
poluição, desordem, cinza", diz
May, que também é artista plástica e desenvolve projetos relacionados à "street art". "O som que
faço é como uma trilha para a minha vida e minhas exposições."
Nesse filme-vida imaginário,
May usa um canto quase falado
para dar vida às suas letras abstratas. "A noite vai encher de medo a
escuridão/ e o Sol só vem de dia
pra limpar suas idéias/ ora, que
hora mais absurda/ a mesma que
passa por túneis, escadas e funerais", diz a faixa "Medo Pré-Mix".
Foi em Salvador, no entanto,
que ela encontrou o par ideal. Logo que entrou na banda, o guitarrista Gilberto Monte, 29, definiu
que May deveria cantar em português. Mais tarde, casou com a
cantora e guiou uma faceta mais
ligada à eletrônica. "Apesar de tudo, não somos os únicos a fazer
um som alternativo", diz Monte.
"Temos um público, por isso continuamos. É uma cena pequena, e
são poucos lugares para shows",
explica May, que cita como companheiros Tritor, Ronei Jorge e os
Ladrões de Bicicleta e Rebeca Mata. No caminho, encontraram a
cumplicidade do músico e produtor americano/brasileiro Arto
Lindsay, que toca em "Passiflora",
além de ser creditado no disco como "produtor associado". Em
dias sombrios para o Brasil, o tara_code ironicamente serve de
cartão-postal para uma nação
sem motivos para festejar.
Azul e Roxo
Artista: tara_code
Lançamento: independente
(distribuição: Tratore)
Quanto: R$ 22, em média
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