São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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Balanço aponta insolvência do Masp; auditoria vê irregularidades

Demonstrativo financeiro da instituição publicado em abril já indicava crise

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira que levou o Museu de Arte de São Paulo (Masp) a ter o fornecimento de energia interrompido por falta de pagamento à Eletropaulo, em maio passado, já estava prevista no próprio balanço geral do museu publicado em abril.
De acordo com o especialista em finanças Alberto Borges Matias, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (Usp), o balanço do Masp revela uma situação de insolvência da instituição. Há dívidas vencidas e déficit crônico. O quadro só poderia ser solucionado por um forte aumento de receita ou corte de despesas.
De acordo com parecer de auditores independentes da PricewaterhouseCoopers, assinado por Mauro Sérgio Alves Teixeira, e publicado no próprio balanço, o Masp comete irregularidades em suas demonstrações financeiras. Uma delas leva o museu a apresentar um superávit "a maior" em suas contas, ou seja, inchado, quando na verdade deveria apresentar um déficit que poderia chegar a cerca de R$ 1 milhão.
De acordo com o parecer, em seu parágrafo 6, o Masp contabiliza como receitas, ou seja, entrada de dinheiro, R$ 522 mil arrecadados para as reformas na galeria Prestes Maia, em 2005, e R$ 1 milhão, em 2004. Entretanto, o parecer aponta que, "consoante as normas brasileiras de contabilidade", tais valores deveriam ser contabilizados "diretamente no patrimônio social".
Tal expediente fez com que "o superávit dos exercícios findos em 31 de dezembro de 2005 e de 2004 estejam demonstrados a maior pelos referidos montantes".
Isso explica porque, em junho do ano passado, o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, afirmou, em entrevista à Folha, que o Masp possuía um déficit de R$ 1 milhão, valor posteriormente negado pelo presidente do museu, o arquiteto Júlio Neves.
Ainda segundo o parecer dos auditores, o Masp lança como receitas de 2005 valores que só seriam obtidos em 2006. De acordo com o parágrafo 8 do parecer, foram contabilizados R$ 362 mil "a maior" no exercício de 2005. O parecer diz que as obras de arte recebidas em doação não são registradas pelo valor de mercado, mas lançadas no valor simbólico de R$ 1.
Além disso, o Masp "não adota a prática de depreciar os bens do ativo imobilizado". Isso significa que o museu lança em seu ativo o valor de aquisição de aparelhos como computadores, por exemplo, sem indicar depreciação em seu valor com o uso.


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