São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

A égua Butterfly Flip é filha de príncipe e plebéia, teve infância humilde e era considerada o patinho feio do estábulo. Hoje, é rica e famosa, seus amigos têm pônei de pelúcia e veio para SP no evento milionário de Athina Onassis

Ana Ottoni/Folha Imagem
Butterfly montada por Malin Baryard, durante sessão de exercícios na Hípica Paulista, em São Paulo; na Suécia, égua e amazona são celebridades


Minha egüinha Butterfly

Pônei de pelúcia cor-de-rosa para que o cavalo relembre o cheirinho de seu estábulo de origem, time de amazonas patrocinado pela Daslu e até "penteadeiras" para armazenar os produtos de beleza (importados, claro) dos campeões. E é claro que no evento da bilionária Athina Onassis, na Hípica Paulista, também não faltaria uma celebridade. É ela: a premiada Butterfly Flip, a égua sueca de 4 milhões (cerca de R$ 10,3 milhões), da raça Swedish Warmblood.

 

"Butterfly Flip é uma diva. E ela sabe disso", define a amazona sueca Malin Baryard, 32, que monta a égua há 11 anos e tentava no Athina Onassis International Horse Show o prêmio máximo, de 300 mil (o evento, que termina hoje, está orçado em R$ 11 milhões). "Ela é a estrela do estábulo e tem privilégios. Tem mais atenção, o maior campo, mais tempo para passear. Mas trabalhou duro para isso", explica Baryard.
 

Trabalhou duro? Sim, Butterfly é praticamente uma "self-made-horse" na Suécia. Sua história de sucesso:
 

Robin Z, seu pai, foi um famoso cavalo saltador. Um dia sua dona foi atender a um telefonema e deixou o garanhão sozinho. Quando voltou, Robin tinha cruzado com Moderne, uma égua, por assim dizer, "anônima". Da travessura nasceu Butterfly, que cresceu como o patinho feio do estábulo: tinha dorso meio curvado, testa curta, aparência desproporcional para a raça. "Todos pensavam que ela não daria um bom cavalo de saltos. Era estúpida no início, maluca, difícil de montar. E você não pode ensinar um cavalo a montar. É algo natural dele", diz Sara Johansson, sua tratadora.
 

Pois a égua virou o jogo e passou pelas competições mais importantes do mundo, até valer mais de R$ 10 milhões. Na Suécia, ela aparece na TV, faz comerciais, tem sua própria linha de produtos, desfila uniformes desenhados pela grife H&M exclusivamente para sua equipe e está até em letra de música.
 

Às 7h, os tratadores chegam ao estábulo, com a missão de treinar, alimentar, limpar, passear, identificar qualquer alteração de humor. Em tempos de competição, o estábulo fica trancado entre 22h e 6h e é vigiado por seguranças, encarregados de impedir tentativas de sabotagem. Veterinários fazem relatórios de hora em hora das atividades noturnas do cavalo. Diário de sono de Butterfly: de terça para quarta-feira, ela dormiu das 22h às 4h, até que acordou procurando comida e despertou de vez.
 

Sara limpa com cuidado a cocheira de Butterfly, repõe água, comida e conversa (em sueco) com o cavalo. Prepara o animal para exercícios matinais. No dorso, antiderrapante, manta, levantador de sela (para proteger os rins do animal), sela, peitoral, barrigueira, estribo, cabeçada, bridão, rédeas. O banho inclui xampu de extratos vegetais, que também serve como desodorante.
 

Nos dias de competição, ela leva 1h30 para fazer as tranças na crina de Butterfly. Perguntar se um desses cavalos usa maquiagem, como é comum em alguns eventos eqüestres no Brasil, é quase uma ofensa. "Talvez os amadores não montem direito e tentem compensar com o spray", diz a sueca Jessica Kürten, 22. Outros agrados são bem-vindos: vaselina nos lábios do animal, para evitar ferimentos, e lenço umedecido de bebês para passar ao redor dos olhos.
 

Às 12h, é hora do almoço (são cinco refeições no total): ração especial, segundo a embalagem, "desenvolvida para eqüinos atletas submetidos a esforços intensos". Na comida, é misturado óleo de cozinha para ajudar na digestão. Há ainda cinco suplementos alimentares, além de uma espécie de Gatorade para reidratar.
 

Nos últimos anos, com as conquistas brasileiras no hipismo, o Brasil entrou no mapa das competições. A estrutura para tratar boa parte dos animais não deve nada ao primeiro mundo, mas a realidade brasileira está longe da européia. "No Brasil, tratador ainda dorme na cocheira", diz Wladimir Wickert. Há 20 anos, ele cuida de cavalos e, há 13, vive na Bélgica. "Lá temos salário e estrutura. Como na Fórmula 1, as equipes de cavalo têm grandes caminhões-casa. Além de estábulo, há cozinha, cama, TV por satélite e microondas para os tratadores." Na Europa, o salário de um tratador gira em torno de R$ 4.000, mas há quem ganhe até R$ 13 mil.
 

Como acontece na carreira de modelo, a idade logo começa a pesar. Butterfly tem 16 anos e já se aproxima da aposentadoria. Seu futuro está planejado: será uma reprodutora. Ela já é, aliás, mãe de um potro, batizado de Flips Little Sparrow, fruto de uma relação de laboratório com Cardento, um garanhão alemão.
 

E seu posto de diva já tem uma sucessora no estábulo: a holandesa Actrice W, que é conhecida na turma como o "Ronaldinho do hipismo".


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