São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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Elogiado pela crítica, pintor faz 1ª mostra aos 59 anos

Morador do bairro do Limão, Bernnô é dono de uma oficina de pintura de carros

O curador Cauê Alves compara Bernnô com Volpi pela "articulação entre cor e formas geométricas nada rígidas"


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

José Bernnô sempre se sentiu um estranho no mundo dos pintores contemporâneos de São Paulo. Primeiro, porque ele mora do outro lado do rio Tietê, no Limão, um bairro de classe média baixa na zona norte, enquanto o mundo da arte gira em torno da classe média alta. Segundo, porque é dono de uma oficina de pintura de carros.
Terceiro, porque na sua idade os pintores que conhece já têm livros publicados enquanto ele inaugura hoje sua primeira exposição individual numa galeria de arte. Bernnô tem 59 anos. O pior modo de se aproximar da obra de Bernnô é pelo viés folclórico ou fabuloso, do tipo "o pintor de carros que virou pintor de telas". Seu trabalho não tem nada de ingênuo ou primitivo. Em texto inédito, o crítico Rodrigo Naves diz que a compreensão de Bernnô da pintura contemporânea passa pela mediação de artistas como Sean Scully, Paulo Pasta, Rodrigo Andrade e Marco Giannotti, com quem ele estudou. O crítico Cauê Alves, curador da exposição, compara o trabalho de Bernnô com o de Alfredo Volpi (1896-1988), o pintor que vivia num bairro popular, o Cambuci, e criou uma das obras mais poderosas da pintura brasileira. "Talvez a pintura de Volpi do início da década de 1960 em diante -pela sabedoria na construção das telas e articulação entre cor e formas geométricas nada rígidas- seja uma aproximação pertinente", escreve no folder da mostra. Seria equivocado, porém, ignorar que Bernnô vem do outro lado da marginal. O próprio artista frisa a ligação de sua obra com o bairro onde vive. Há uma padaria no bairro do Limão chamada A Lareira, que Bernnô freqüenta há décadas. Fica no alto de um morro. "Quem quiser saber de onde vem minha pintura, é só olhar aqui de cima do morro: minha pintura vem das casas simples", afirma.
As cores de Bernnô são um espanto para quem está acostumado com o mundo asséptico da pintura brasileira pós-50.
Ele não tem medo de usar vermelho, amarelo, rosa fluorescente ou três tons de verde numa mesma tela. Há uma alegria que parecia perdida na arte contemporânea.
"Sabe de onde vem essas cores?", pergunta Bernnô. "Comecei a estudar pintura e fiquei fascinado com as cores puras.
Agora estou imitando o Matisse. Ele era um defensor da cor pura. Daí eu quis saber o que ele chamava de cor pura. É a cor que sai do tubo de tinta, sem nenhuma mistura", conta.
O uso abusado das cores não transforma as obras de Bernnô em paródia da pintura moderna, como ocorre com certos pintores contemporâneos.
"Não quero chocar", diz, sobre o uso de cores cítricas ao lado de preto ou vermelho. "O que me interessa é o bonito."
Numa tela, Bernnô pinta formas abstratas em vermelho, preto e rosa, "a cor dos puteiros", como diz o colecionador e galerista Maurício Buck. O pintor diz não ter medo das chamadas cores decorativas. "Depende de como você usa essas cores", ensina.


JOSÉ BERNNÔ
Quando: abertura hoje, às 19h; de seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 14h; até 12/9
Onde: Estúdio Buck (r. Lopes Amaral, 123, Vila Olímpia, tel. 0/xx/ 11/3846-4028; livre)
Quanto: entrada franca



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