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ARQUITETURA
Residência no bairro carioca de Botafogo começou a ser demolida, mas liminar interrompeu a destruição
Casa projetada por Niemeyer corre perigo
da Reportagem Local
Uma casa projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, localizada no
bairro carioca de Botafogo (r.
Eduardo Guinle, nº 55), corre o
risco de ser demolida.
A demolição já começou, mas foi
interrompida graças à mobilização
dos moradores do bairro e a uma
liminar expedida por um juiz da 5ª
Vara de Fazenda Pública, no Rio.
Em seu lugar, a construtora
Agenco pretende construir um
edifício residencial de 12 andares.
A empresa já possui um terreno ao
lado, o que viabiliza o projeto.
Também agiu estritamente de
acordo com a lei. Verificou se a casa não estava em processo de tombamento (não estava), entrou com
pedido de licença para demolição
(concedido pela Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio) e iniciou os trabalhos.
A demolição foi interrompida
pela Associação de Moradores e
Amigos de Botafogo, que entrou
com pedido de cancelamento da licença de demolição e que agora
corre atrás de seu tombamento.
O movimento é encabeçado pelo
arquiteto João Augusto de Macedo
Jr., morador da mesma rua Eduardo Guinle. Um abaixo-assinado
pelo tombamento do imóvel já está
correndo e conta com assinaturas
do arquiteto Sérgio Bernardes e do
urbanista Lúcio Costa.
Segundo Macedo Jr., o processo
de demolição ainda pode ser revertido. "A casa ainda pode ser restaurada. Pretendemos transformá-la na Fundação da Arquitetura
Brasileira, um espaço destinado a
pesquisas sobre arquitetura brasileira", disse.
Sabino Barroso, diretor do Departamento de Proteção do Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional), também
acredita que o imóvel possa ser
restaurado. "Qualquer obra recente tem total possibilidade de reconstrução. As técnicas de construção são atuais", disse.
Barroso disse ainda que o Iphan
vai designar um grupo de trabalho
para tombar todo o conjunto da
obra de Niemeyer, que inclui a casa em Botafogo.
'Uma obra de Niemeyer é importante em qualquer cidade do
mundo. É como Barcelona demolir uma obra de Gaudí", disse, referindo-se ao arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926).
Este não é o primeiro imóvel de
Niemeyer que é demolido. O próprio arquiteto elencou alguns deles em artigo em que lamenta a demolição, publicado no "Jornal do
Brasil" de 25 de agosto. Lembrou-se da fábrica de biscoitos Duchen (na rodovia Presidente Dutra), de uma escola em Belo Horizonte e de uma residência em Laranjeiras
(zona sul do Rio).
A casa foi projetada por Niemeyer em 1969 para um amigo, o advogado Frederico Augusto Gomes.
O arquiteto não cobrou pelo projeto, que teve de se adequar às dimensões reduzidas do terreno:
12m x 30m. A casa é toda voltada
para dentro, em torno de uma piscina circular, e não para fora, em
direção aos jardins.
Niemeyer projetou-a em três pavimentos. No subsolo, estão garagens e áreas de serviço; no térreo,
estão a piscina, salas, dois quartos,
cozinha e um jardim coberto; no
primeiro andar, há um jardim descoberto, uma sala e ainda três
quartos.
Os três pavimentos são ligados
por uma escada helicoidal (que se
desenvolve na forma de uma hélice
em torno de um mastro).
A casa tinha ainda uma caixa d'água em forma cilíndrica, que já foi
demolida. Possui ainda um painel
de azulejos pintados à mão pelo artista Athos Bulcão e vista para o
Cristo Redentor.
O imóvel já foi motivo de artigos
em livros, jornais e revistas, como
a francesa "L'Architecture d'Aujourd'hui".
(CF)
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