São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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MÚSICA ERUDITA

Maestro da Osesp omitiu dados ao afirmar que seus ganhos não haviam sido diminuídos este ano

John Neschling tem salário reduzido em R$ 320 mil

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro John Neschling, da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, falseou dados ao afirmar que seus ganhos não haviam sido reduzidos neste ano.
Em carta enviada à Folha, e publicada em 27 de julho, o regente contestava reportagem publicada dois dias antes, segundo a qual seu salário fora reduzido para cerca de R$ 800 mil por ano.
A reportagem da Folha teve acesso ao novo contrato e constatou que o ganho anual de Nesch-ling em 2002 será de R$ 880 mil, divididos em quatro parcelas -R$ 80 mil, R$ 100 mil, R$ 200 mil e R$ 500 mil.
Entre 1997 e 2001, Neschling recebia cerca de US$ 400 mil ao ano, o correspondente hoje a R$ 1,2 milhão. Nessa comparação genérica, os ganhos do maestro tiveram uma redução de R$ 320 mil.
Na comparação com alguns anos, a perda é ainda maior. Em 2000, por exemplo, Neschling recebeu o equivalente a US$ 472.286, quando se usa o valor médio anual do dólar para corrigir os seus ganhos. Se esse valor continuasse valendo para 2002, Neschling embolsaria aproximadamente R$ 1,41 milhão. Nesse caso, a redução do novo contrato seria de R$ 530 mil.
Entre 1997 e 2001, os valores dos contratos de Neschling e a Fundação Padre Anchieta eram em dólares. Em 1997 e 1998, por exemplo, o maestro recebia US$ 230 mil por ano, US$ 15 mil por concerto e US$ 7.500 quando houvesse a repetição de um programa.
No instante do pagamento, a Fundação Padre Anchieta corrigia esses valores pelo real do dia e depositava na conta do maestro. Dois especialistas em direito público ouvidos pela Folha em maio (Carlos Ari Sundfeld, professor da PUC-SP, e Maria Sylvia Zanella di Pietro, da USP) consideraram irregular o pagamento em dólar já que o maestro, apesar de morar na Suíça, abrira uma empresa no Rio, chamada Colchea Produções Artísticas, para fazer o negócio com a fundação.
Neste ano, pela primeira vez desde 1997, o contrato foi firmado em reais. A Fundação Padre Anchieta diz que mudou a moeda que indexava os pagamentos pois o maestro agora mora em SP.
Neschling dizia na carta, sem maiores explicações, que seu contrato não é sigiloso. A Folha solicitou, então, à Secretaria Estadual da Cultura e à Fundação Padre Anchieta cópias do documento para conferir se as informações que o jornal publicara estavam erradas, como argumentava o maestro.
Ambos se recusaram a fornecer cópias do documento. Usaram um parecer do advogado Modesto Carvalhosa, segundo o qual não há sigilo no contrato porque ele é conhecido pelo Tribunal de Contas do Estado e pelo Ministério Público.
Para Carvalhosa, a Folha invadiu a privacidade de Neschling ao revelar os seus ganhos: "Ao agir assim, o repórter violou gravemente a inviolabilidade da vida profissional do maestro, acarretando um evidente risco pessoal quanto à sua segurança, ao ter revelado de forma sensacionalista dados sobre a remuneração, o que ameaça sua integridade física e patrimonial".


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