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MÚSICA ERUDITA
Maestro da Osesp omitiu dados ao afirmar que seus ganhos
não haviam sido diminuídos este ano
John Neschling tem salário reduzido em R$ 320 mil
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O maestro John Neschling, da
Orquestra Sinfônica do Estado de
São Paulo, falseou dados ao afirmar que seus ganhos não haviam
sido reduzidos neste ano.
Em carta enviada à Folha, e publicada em 27 de julho, o regente
contestava reportagem publicada
dois dias antes, segundo a qual
seu salário fora reduzido para cerca de R$ 800 mil por ano.
A reportagem da Folha teve
acesso ao novo contrato e constatou que o ganho anual de Nesch-ling em 2002 será de R$ 880 mil, divididos em quatro parcelas -R$ 80 mil, R$ 100 mil, R$ 200 mil e R$ 500 mil.
Entre 1997 e 2001, Neschling recebia cerca de US$ 400 mil ao ano,
o correspondente hoje a R$ 1,2
milhão. Nessa comparação genérica, os ganhos do maestro tiveram uma redução de R$ 320 mil.
Na comparação com alguns
anos, a perda é ainda maior. Em
2000, por exemplo, Neschling recebeu o equivalente a US$
472.286, quando se usa o valor
médio anual do dólar para corrigir os seus ganhos. Se esse valor
continuasse valendo para 2002,
Neschling embolsaria aproximadamente R$ 1,41 milhão. Nesse
caso, a redução do novo contrato
seria de R$ 530 mil.
Entre 1997 e 2001, os valores dos
contratos de Neschling e a Fundação Padre Anchieta eram em dólares. Em 1997 e 1998, por exemplo, o maestro recebia US$ 230
mil por ano, US$ 15 mil por concerto e US$ 7.500 quando houvesse a repetição de um programa.
No instante do pagamento, a
Fundação Padre Anchieta corrigia esses valores pelo real do dia e
depositava na conta do maestro.
Dois especialistas em direito público ouvidos pela Folha em maio
(Carlos Ari Sundfeld, professor da
PUC-SP, e Maria Sylvia Zanella di
Pietro, da USP) consideraram irregular o pagamento em dólar já
que o maestro, apesar de morar
na Suíça, abrira uma empresa no
Rio, chamada Colchea Produções
Artísticas, para fazer o negócio
com a fundação.
Neste ano, pela primeira vez
desde 1997, o contrato foi firmado
em reais. A Fundação Padre Anchieta diz que mudou a moeda
que indexava os pagamentos pois
o maestro agora mora em SP.
Neschling dizia na carta, sem
maiores explicações, que seu contrato não é sigiloso. A Folha solicitou, então, à Secretaria Estadual
da Cultura e à Fundação Padre
Anchieta cópias do documento
para conferir se as informações
que o jornal publicara estavam erradas, como argumentava o
maestro.
Ambos se recusaram a fornecer
cópias do documento. Usaram
um parecer do advogado Modesto Carvalhosa, segundo o qual
não há sigilo no contrato porque
ele é conhecido pelo Tribunal de
Contas do Estado e pelo Ministério Público.
Para Carvalhosa, a Folha invadiu a privacidade de Neschling ao
revelar os seus ganhos: "Ao agir
assim, o repórter violou gravemente a inviolabilidade da vida
profissional do maestro, acarretando um evidente risco pessoal
quanto à sua segurança, ao ter revelado de forma sensacionalista
dados sobre a remuneração, o que
ameaça sua integridade física e
patrimonial".
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