São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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Mostra analisa caminho da arte a partir dos anos 70

Começa hoje, no Tomie Ohtake, "Arte Como Questão", com mais de 250 obras de cem artistas, todas produzidas no Brasil

Lygia Clark, Oiticica e Cildo Meireles são alguns dos nomes presentes na exposição, que reúne também publicações

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fotografias, vídeos, obras feitas em computador ou com materiais como garrafas, cartões postais, sacos plásticos ou pedras estão presentes em diversas mostras da mais recente produção, mas ainda continuam a gerar espanto. Todos esses materiais, entretanto, já fazem parte da história da arte há décadas, como se pode constatar, a partir de hoje, com a mostra "Arte Como Questão Anos 70", no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Glória Ferreira.
Em mais de 250 obras de cerca de cem artistas, todas produzidas no Brasil, Glória Ferreira apresenta os diversos caminhos que a arte tomou a partir dos anos 60. A mostra encerra o ciclo que já havia analisado outros três momentos da produção nacional no instituto: "Pincelada Pintura e Método" (anos 50), "Geração da Virada" (anos 00) e "Modernos, Pós-Modernos etc." (anos 80 e 90). "A arte contemporânea surge, nos anos 70, colocando em questão o próprio valor da arte; o que se vê nesta exposição é o exercício dessa experiência", diz a curadora.

"Quebra" de limites
Por isso, grande parte dos trabalhos aborda questões intrínsecas ao próprio fazer artístico, como a noção de representação, por exemplo. Entre elas, está uma instalação pouco conhecida de Cildo Meireles, composta por 12 balanças, cada uma com um saco de tamanho diferente, todas apontando para o mesmo peso.
Não que o fazer artístico não tenha sido também uma questão para os modernos, afinal Picasso, com o cubismo, ou Mondrian, com a arte abstrata, só para citar dois casos, estavam também abordando a noção de como e se a arte pode representar algo. Entretanto, na opinião de Glória Ferreira, o que se viu anos 70 foi um passo mais radical: "Enquanto os modernos expandem os limites da arte, os contemporâneos quebram todos esse limites".
Entre as situações que apontam para o fim dessas fronteiras, os objetos relacionais de Lygia Clark serão vistos no ambiente onde a própria artista os utilizava, ou seja, em seu consultório, que é remontado para a mostra. Essas experiências radicais, criadas para expandir a noção de arte, não perdem seu sentido quando institucionalizadas?
"Há uma absorção pelas instituições, mas as próprias instituições tiveram que se alterar, hoje artistas podem quebrar paredes, ou, como no caso do consultório, as pessoas vão ficar deitadas, se esfregando no sofá", diz Ferreira.
Quando se fala em Lygia Clark, Hélio Oiticica também é citação obrigatória. Na mostra, ele aparece com um trabalho da série "Quasi cinemas", chamado "Helena Inventa Ângela Maria", um projeto não-realizado.
Na mostra "Arte Como Questão", eles são apenas mais dois artistas entre os que buscavam vincular arte e vida, um dos temas essenciais daquele momento. "Essa era uma questão daquela época, graças aos movimentos jovens, que questionavam os parâmetros institucionais e levavam o cotidiano para uma dimensão política", afirma a curadora.
Além de obras, a exposição reúne um grande número de publicações, nas quais artistas assumem o papel de críticos, rompendo, também aí, alguns limites tradicionais.


ARTE COMO QUESTÃO ANOS 70
Quando:
abertura, hoje, para convidados; ter. a dom, das 11h às 20h. Até 28/10
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Brigadeiro Faria Lima, 201 (entrada pela r. Coropés), SP, tel. 0/xx/11/2245-1900)
Quanto: entrada franca


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