São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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"Era pesado ter que me transformar"

Ex-Los Hermanos, Marcelo Camelo diz que recém-lançado CD solo tem músicas "mais parecidas" com o que ele é "em casa'

Compositor evita polêmicas, mas comenta diferenças entre seu novo trabalho e o da banda, que interrompeu atividades em 2007


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Marcelo Camelo fala "é o problema dos..." e pára, como se não quisesse dizer "Hermanos" e dar brecha a alguma polêmica, algo a que é habitualmente avesso. Mas o compositor não tem como negar que seu primeiro disco solo traz diferenças significativas em relação ao trabalho do Los Hermanos, a banda que interrompeu atividades "por tempo indeterminado" em abril de 2007.
"Quando [você] faz uma música muito distante do que você é, quando tem que evocar um espírito muito distante de você, enfim, se for um ritual de transformação muito radical, é pesado de se fazer como um ofício. Para mim, era muito pesado gritar, ter que me munir de um espírito, ter que me transformar a cada noite", diz, referindo-se aos shows da banda.
"Eu comecei a fazer e a querer apresentar umas músicas que fossem mais parecidas com o que sou em casa, num estado mais relaxado, para poder fazer disso um ofício", diz ele, que inicia turnê em Recife, no dia 19, e canta no Tim Festival, em SP e no Rio, em outubro.
"Sou", que também se lê como "Nós" (de cabeça para baixo) no poema visual de Rodrigo Linares na capa do CD, é a tradução desse "estado mais relaxado". Das 12 músicas divididas em 14 faixas -"Saudade" e "Passeando" também aparecem em versões instrumentais com a pianista Clara Sverner-, apenas "Mais Tarde" tem um acento roqueiro.
No resto, prevalecem baladas e canções, letras curtas e efeitos (sons de praia, a empregada batendo um bife) que ele diz serem inspirados nas sobras em fitas cassete de quando se grava por cima do que foi gravado.
"Não penso que seja um disco de difícil apreciação. Até porque não tem muita força. É um disco fluido, tranqüilo", define, contestando a idéia de que não é um CD dançante. "Nem todo mundo quer dançar. Mas é um dos discos mais dançantes que já fiz. Tem um suingue, uma dança qualquer."
Tem, por exemplo, um pouco de samba-reggae em "Vida Doce" e muito de marchinha em "Copacabana", que fala de "velhinhos" e "gordinhas". Homenagem ao bairro onde morou?
"Músicas não nascem assim não, cara. Às vezes ouço umas frases, não sei se já existiram ou se vão existir, e assopro até virar uma fogueira. Mas não é assim: vou fazer uma música sobre Copacabana, sento com uma caneta, com uma camisa "I love Copacabana"..."
Vida de entrevistador de Marcelo Camelo tem dessas dificuldades. Entre gírias, metáforas e cigarros, ele evita falar das músicas ("Acho que qualquer decodificação vai ser menor do que a parada em si") ou criar teses sobre seu trabalho. Admite, ao menos, que o formato de "Sou" dificilmente caberia nos Hermanos:
"Às vezes eu estava tentando compor uma coisa, imaginava que não serviria para a banda e já desanimava. Nesse disco, não. Dei asas a todas as fagulhas e soprei para ver se vingava".
O grupo está disperso: Rodrigo Amarante grava o disco "Little Joy", com Fabrizio Moretti, da banda The Strokes; Bruno Medina toca com Adriana Calcanhotto; e Rodrigo Barba, com a banda Canastra. Mas Camelo acredita num reencontro.
"O fato de a gente ter parado em nome dessa preservação possibilita um futuro. Se estivéssemos estendendo a nossa empreitada, talvez não tivesse [possibilidade]. Foi sensato o momento, e essa sensatez permite pensar num retorno".


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