São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

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CRÍTICA NOVELA

"Roque Santeiro" tematizou redemocratização brasileira

BIA ABRAMO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Roque Santeiro" talvez seja o clímax da teledramaturgia dos anos 70/80. Começa com uma boa história: em 1965, Dias Gomes escreve a peça "O Berço do Herói". Dez anos depois, já na Globo, a peça tornou-se novela.
Mas era 1975 e a censura viu ataques à dignidade da igreja no roteiro. Com 30 capítulos prontos, a primeira versão não foi exibida.
Nas franjas da abertura política, em 1985, a novela, enfim, vai ao ar.
Em linhas gerais, a história é a mesma: uma cidade do Nordeste vive em torno dos milagres atribuídos a Roque Santeiro, artesão que teria dado a vida para defender a igreja dos bandidos.
Mas ele volta e ameaça os poderosos: o prefeito, o padre, o comerciante de santos e medalhas e, claro, a viúva que foi sem nunca ter sido.
Dois elementos concorrem para que "Roque" seja considerado um dos maiores êxitos da Globo: fala-se em audiência média de 67 pontos no Ibope -98 no final.
A novela tematizava os desafios da redemocratização de maneira aguda: o que sobrava após os militares? O Brasil arcaico agonizava e já ia tarde, com sua ingenuidade miserável, mas o Brasil moderno tinha de ser prepotente como Sinhozinho Malta, mentiroso como Porcina ou ambíguo como Roque?
Nem toda a pertinência adiantaria se a novela não fosse extremamente competente. O tal padrão Globo de qualidade, aqui centrado no tripé direção de atores, atuação e diálogos, poucas vezes chegou a esse nível de acerto.
Olhando agora, algumas precariedades saltam, mas o resto é tão melhor ao que se faz hoje que é de se perguntar como é que se desaprendeu tanto na emissora.

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QUANTO R$ 249,90
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo


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