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CRÍTICA DVD
Sirk comprova valor de pequenas histórias
Dois filmes de fases distintas do cineasta (1900-1987) atestam maior habilidade com argumentos capengas
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
De Douglas Sirk já se disse
que, quanto pior a história,
melhor o resultado dos filmes. Não é uma verdade final, mas aponta para algo interessante: Sirk era capaz de
transformar argumentos andrajosos em melodramas
maravilhosos.
"Tudo que o Céu Permite",
feito para a Universal por encomenda do produtor Ross
Hunter, é um bom exemplo
disso: numa pequena cidade, uma viúva (Jane Wyman)
se apaixona pelo jardineiro.
Aliás, não é bem de jardineiro que se trata: ele é mais
alguém ligado à natureza,
uma espécie de ecologista
"avant la lettre".
O certo é que, mesmo sendo ele Rock Hudson, o galã
de maior prestígio nos anos
50 do século passado, as vizinhas só veem inconvenientes nessa aproximação da
viúva com a classe inferior.
Os filhos, então, nem se fala. E Jane Wyman hesita: como ficar contra seus amigos,
sua cidade, sua família? Ela
deve renunciar ao amor.
VISÃO CRÍTICA
Ao se apropriar desse material, Sirk comporá um belo
quadro cultural de uma cidade interiorana dos EUA, quer
dizer, uma cidade que vive
impulsionada basicamente
por fofocas e preconceitos.
Como bom alemão que
era, aproveitará a oportunidade para colocar em contraponto a natureza -tão cultivada por Hudson.
É desse filme uma das melhores cenas de sua carreira e
daquela década: o momento
cheio de ironia em que o filho
presenteia a mãe com uma
televisão e o vendedor explica como, com um mero toque
no botão, ela terá a própria
vida em suas mãos.
De outra natureza é "Summer Storm - O que Matou por
Amor" (1944), adaptação do
romance "O Duelo", de Tchecov, que Sirk realizou com
produção independente.
Linda Darnell faz Olga, garota linda, pobre e arrivista,
capaz de seduzir praticamente qualquer homem na Rússia pré-revolucionária em
que Sirk situou a ação.
Arrivista, mas não simplista, nem sempre se sabe qual
o seu maior interesse: se pelas riquezas que os homens
lhe podem oferecer ou se pelo juiz George Sanders.
Apesar da bela realização,
sente-se aqui um Sirk ainda
não de todo integrado aos
EUA, para onde viera fugindo da Alemanha de Hitler.
Daí a oscilação entre um
filme com atores tão tipicamente americanos, ambientado numa Rússia que, por
deficiência de produção ou
devido ao afastamento de
Sirk da Europa, parece uma
Rússia de fantasia.
Talvez Sirk tenha razão ao
sustentar que, no cinema, as
pequenas histórias se dão
melhor. Um argumento capenga vale mais do que Tchecov. Ou talvez tenha razão
quem afirma que o melhor de
Sirk surge quando tirava
água de pedra.
O fato é que, se "Summer
Storm" está longe de ser um
mau filme, "Tudo que o Céu
Permite" é a obra-prima.
TUDO QUE O CÉU PERMITE
LANÇAMENTO Versátil
QUANTO R$ 40 (em média)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo
SUMMER STORM - O QUE
MATOU POR AMOR
LANÇAMENTO ClassicLine
QUANTO R$ 30 (em média)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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