São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Copan no centro da arte

Caio Esteves/Folha Imagem
Fachada do edifício Copan, desenhado por Oscar Niemeyer em SP, que será usado por Catherine David como base para projeto de mapeamento cultural das artes



A partir de um apartamento no histórico edifício paulistano, a francesa Catherine David pretende mapear a produção cultural da cidade


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Um apartamento no edifício Copan, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer no centro de São Paulo, tornou-se o centro de irradiação de um grupo de intelectuais que fará um mapeamento da produção cultural na cidade.
A iniciativa tem entre suas lideranças a curadora francesa Catherine David, que está no Rio para a abertura de mostra de Maurício Dias e Walter Riedweg. David foi a curadora da Documenta X, em 97 (primeira mulher a ocupar o cargo de direção da mais importante mostra de artes plásticas do mundo), e é a diretora do Centro de Arte Contemporânea Witte de With, em Roterdã (Holanda).
Há meses o grupo, que conta ainda com o filósofo Peter Pelbart, com a psicanalista Suely Rolnik e com a historiadora Denise Sant'anna, entre outros, vem estudando formas de trabalhar com poéticas contemporâneas. "Chegamos a um ponto em que ficou claro que tínhamos que organizar um evento para iniciar um processo. O apartamento no Copan é o primeiro passo", afirma David.
A idéia do Copan veio de Ligia Nobre e Cecile Zoonens, da ONG Exo, que coordena as atividades e tem apoio de órgãos franceses, holandeses e espanhóis. O apartamento será a sede de discussões do grupo e também funcionará como um local para residência artística. "Já estive muitas vezes em SP e a considero apaixonante. Mas pode-se dizer que ela apresenta um déficit de representação. Muitos estrangeiros que vêm para a Bienal, por exemplo, acham a cidade feia e tediosa, o que não corresponde à realidade", diz David.
A cidade torna-se, assim, o centro de irradiação das iniciativas do grupo, batizado como São Paulo S.A., referência ao filme de Luiz Sérgio Person. No entanto, o mapeamento tem também caráter nacional. Segundo David, "o Brasil tem muitas vozes, mas o que circula, tanto no país como fora dele, está repleto de vazios. O objetivo é pensar um evento a partir das energias brasileiras".
Com isso, o grupo pretende mapear a produção cultural da cidade e buscar formas de aumentar suas visibilidades. A primeira iniciativa será uma série de debates, no fim do próximo mês, ainda em caráter reservado. Interessados podem obter informações pelo e-mail exorg@uol.com.br.
O mapeamento é o primeiro passo, que será seguido por uma articulação com produtores culturais. "Buscaremos articular as energias e as produções formais paulistanas", diz David. O projeto, por trabalhar com questões urbanas, poderia ser próximo ao que o Arte Cidade desenvolve. "O que eles fazem é uma exposição na cidade; pretendemos um trabalho mais rizomático, capaz de ecoar fenomenologias bem finas."
Para as residências artísticas, David já tem alguns nomes definidos, entre eles a grega Maria Papadimitria e o arquiteto mexicano Pablo Leon de la Barra. Brasileiros de outras cidades também serão convidados. "A proposta é possibilitar uma interação desses artistas com a cidade, evitando aquele tipo de aproximação rápida, de quem tem uma estada de três dias e não entende nada do que vê."
Com isso, o Copan, que previa a construção de um hotel em seu projeto original, retoma, com adequações, sua proposta inicial. "O Copan, por sua situação complexa e localização privilegiada, exige uma pluralidade de ações e pesquisas", diz David.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da produção da exposição "O Outro Começa Onde Nossos Sentidos se Encontram com o Mundo"



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