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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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Canais estrangeiros investem em programas nacionais para subir ibope e receita

TV em nova embalagem

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à grave crise do mercado publicitário, canais estrangeiros de TV decidiram apostar numa estratégia de "tropicalização" da programação a fim de conquistar anunciantes e audiência.
Redes como Sony, Nickelodeon, AXN, Fox e National Geographic abrem espaços cada vez maiores a programas produzidos no Brasil. Com os primeiros -e bons- resultados de ibope e faturamento, já planejam reforçar a investida para o próximo ano.
Além do interesse dos telespectadores e da publicidade por essa "nacionalização", os canais têm um novo motivo para a mudança: a lei de incentivos à produção audiovisual brasileira da Ancine.
A Agência Nacional do Cinema, instituída por Fernando Henrique Cardoso, é presidida pelo cineasta Gustavo Dahl e ligada ao governo federal. Possui uma comissão para selecionar projetos a serem beneficiados com renúncia fiscal. Pelas regras, estrangeiros que investirem em conteúdo nacional de TV pagam menos impostos. Antes, os canais eram taxados em 11% da remessa de dinheiro ao exterior. Agora, os que fomentarem a produção brasileira pagam 3% à Ancine -e esse montante é usado por uma produtora do país associada ao canal.
Até a semana passada, R$ 2 mi já haviam sido liberados para produtos da TV paga, e há projetos em análise para outros R$ 6 mi, de um caixa que já acumulou R$ 15 mi, segundo Vera Zaverucha, assessora-chefe da presidência. "A principal linha dos aprovados tem sido de documentários."
O primeiro projeto beneficiado foi o "Rally dos Sertões", do AXN, que estreou em setembro e terá sua última reprise exibida hoje.
Aproveitando o incentivo, o AXN fez um documentário da competição, com cinco edições, que será exibido em Portugal, Espanha e 23 países da América Latina e Caribe. "Há um esforço de não deixar o AXN totalmente internacional e mostrar o valor brasileiro no exterior", diz Dênis Palma, supervisor de marketing.
Centrada em ação, a emissora dos EUA tem outras produções do país (veja quadro ao lado), que devem crescer no próximo ano.
O infantil Nickelodeon, do conglomerado norte-americano Viacom (da MTV), também conta hoje com uma forte programação brasileira. Em agosto de 2002, estreou na produção nacional com o "Patrulha Nick". A atração, que recebeu incentivo da Ancine pela primeira vez no mês passado, já figura entre as cinco preferidas pelo público, segundo pesquisa interna, ao lado de importados de sucesso como "Bob Esponja".
"Tivemos ganho considerável de audiência. Antes do "Patrulha", estávamos em terceiro lugar no Ibope entre os infantis, longe do segundo. Agora, estamos em segundo, perto do líder", afirma Alvaro Paes de Barros, diretor-geral.
Até julho de 2002, o canal não exibia nenhum programa brasileiro. No mês passado, levou ao ar 300 minutos de produção nacional. O Nickelodeon é parceiro da produtora TeleImage, responsáveis pela série "Turma do Gueto", transmitida pela Record, e por filmes como "Acquaria", de Sandy & Junior, e "Ilha Rá-Tim-Bum". Para Roberto d'Avila, sócio da TeleImage, a Ancine foi um estímulo inicial para a TV paga. "Agora, a produção brasileira começa a reverter em faturamento e audiência, e os canais passarão a um investimento mais organizado."
O Sony, conhecido por séries norte-americanas como "Seinfeld", teve como um dos principais investimentos do ano uma produção brasileira: o "dateXpress" (a última reprise da primeira temporada vai ao ar hoje). "Estreamos no país há sete anos, com a intenção de ter algo nacional. Agora, com o amadurecimento da TV paga e da publicidade, isso está sendo possível. Em 2004, vamos ampliar", diz Carolina Viana, gerente de marketing.
A empresa argentina Claxson, que tem 11 canais fechados, também começou a produzir e exibir programas brasileiros e quer investir ainda mais em 2004. Dona da Playboy TV (canal "à la carte"), estuda uma forma de usar o incentivo da Ancine para rodar filmes pornográficos no Brasil. A agência não se pronunciou sobre a proposta. Mas, segundo a Folha apurou, tende a não aprová-la, alegando critérios de valorização de projetos culturais e educativos.

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