São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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Grupo acusa Fundação Bienal de censurar obra

Criado pelo coletivo dinamarquês Superflex, "Guaraná Power" ficou fora da mostra

Artistas dizem que trabalho foi vetado pela presidência da fundação; para os organizadores, haveria problema de ordem jurídica


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma acusação de censura criou polêmica, ontem, na entrevista coletiva dos organizadores da 27ª Bienal de São Paulo. No documento "A obra de arte que os brasileiros não terão permissão de ver na Bienal", distribuído à imprensa, o grupo dinamarquês Superflex afirmou que o "presidente da Fundação Bienal, Manuel Francisco Pires da Costa, censurou um trabalho com reconhecimento internacional para o público brasileiro".
A obra "Guaraná Power", que faz referências críticas à indústria de refrigerantes (leia texto à esquerda), já foi apresentada na Bienal de Veneza, em 2003. O trabalho foi selecionado para a mostra brasileira pelo grupo de curadores e, segundo o texto divulgado pelo Superflex, acabou sendo recusado "por não ser considerada uma "atividade artística'".
Com isso, foi apontada uma suposta intervenção da presidência da Bienal em decisões curatoriais da mostra.
"Eu jamais interferi no mérito das obras selecionadas. Aliás, a acho de muito mau gosto e, se não julguei, estou julgando agora. Foi o departamento jurídico da Bienal quem informou que essa obra não estava de acordo com as regras da legislação brasileira", disse, em tom irritado, Pires da Costa, na entrevista coletiva com os responsáveis pela Bienal, realizada na manhã de ontem.
"Além do mais, nós sabemos que o grupo sofre várias ações no exterior e aqui não seria o palco adequado no qual se poderiam discutir problemas sobre legalidade", afirmou o presidente.

Problemas legais
Já o co-curador da Bienal, Adriano Pedrosa, reforça a tese de Pires da Costa: "Nós tínhamos interesse na obra, mas trabalhamos na Fundação e fomos orientados pelo departamento jurídico. Por mais autonomia que tenhamos, não podemos ir contra a lei".
"O que eles sempre nos disseram é que isso poderia ser um problema, mas o presidente nunca nos deu respostas claras. Nossas obras sempre envolvem negociação, mas com ele tivemos as portas fechadas. Se eles olhassem como ficou a lata [diferente da criação original], não haveria problema legal", disse à Folha Jakob Fenger, um dos membros do grupo.

Cildo Meireles
Ainda ontem, Pires da Costa explicou o motivo de o artista Cildo Meireles não estar na mostra, mesmo após o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira ter sido retirado do Conselho da Bienal, condição imposta pelo artista para participar da exposição: "A notícia que nos foi dada pela curadoria é que a volta seria difícil, pois ele não teria condições de retomar o seu trabalho pelo tempo já perdido". Segundo Cristina Freire, uma das co-curadoras, Meireles apresentaria três obras, mas uma delas, "Homeless-Home", não ficaria pronta.


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