São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Rafaela Azevedo
Lulas Lima com Sandy, que vestiu Emanuelle Junqueira

Lá vem a noiva

Rendas francesas point d'esprit, rendas chantilly com aplicações de cristal, rendas vintage: o romantismo está de volta no corpo das noivas mais badaladas do país

O caleidoscópio do salão dos espelhos do palácio de Versalhes, na França, é a lembrança mais forte que a estilista Emanuelle Junqueira tem de sua infância na Europa, onde viveu dos seis aos dez anos. Não por acaso, o cenário caberia como uma luva para que a cantora Sandy e a atriz Anna Sophia Folch, mulher de Ângelo Paes Leme, desfilassem com seus vestidos de noiva. Com corte simples, mas cobertas por metros e metros de rendas sobrepostas ou trabalhadas em detalhes harmônicos, as peças criadas pela estilista, que custam a partir de R$ 12 mil, apontam para uma tendência: a do resgate do romantismo dos anos 30 e 40, quando a inocência e a suavidade da noiva podiam ser explicitadas sem medo em modelos semi-angelicais.

 

"Nos anos 80, a mulher deixou de lado o feminino. E agora, aos poucos, está retomando", diz Emanuelle, que começou nesse mercado fazendo o próprio vestido de casamento, em 1999. "Muita gente comentou, gostou. E aí fui fazendo outros", lembra ela, que passou cinco anos atendendo as clientes-amigas em sua própria casa, até ter coragem de largar o trabalho como estilista em uma confecção para transformar o negócio paralelo das noivas em sua atividade principal.
 

Conhecida por seus traços românticos, ela toma cuidado na hora de aceitar a definição. "O ritual do casamento em si já é um romance", diz Emanuelle. O toque moderno vem no uso de tecidos tecnológicos, como a seda com bambu e o couro, utilizado, por exemplo, no busto do vestido de Sandy.
 

Reflexo direto do retorno ao romantismo é o uso abundante das rendas nos vestidos. "Há alguns anos, a maioria torcia o nariz quando se falava em renda. Hoje, elas já chegam pedindo", diz a estilista Wanda Borges, que costura para esse segmento há mais de 30 anos e tem clientes como a família Feffer, Klabin e Sicupira.
 

Ela tem uma coleção de rendas vintage, que vem juntando desde os anos 70. Recentemente, passou a disponibilizar as peças para clientes especiais, "que sabem valorizar a peça". E com quantos metros de renda se faz uma noiva romântica? "No mínimo seis", diz Emanuelle. Ela afirma que quantidade nem sempre é o fundamental. Muitas vezes, é a variedade trabalhada com parcimônia que faz a diferença na hora de compor um modelo. "Já cheguei a usar sete tipos de rendas, mas me conformo com dois."
 

No vestido de Sandy foram usados pelo menos três tipos de renda. Por baixo da saia de rendas francesas point d'esprit e chantilly com aplicações de cristais saíam cinco camadas de linho de seda entremeados com renda valenciana para compor a cauda. Nas costas de tule, o tecido formava um desenho circular com aplicações de renda que subia pelo pescoço e pelos ombros para formar uma delicada manguinha bordada com fios metalizados. Abaixo do busto, moldado no couro texturizado, foram aplicados cristais e pérolas que formavam o desenho de bico de renda. Na cabeça, um arranjo de fios de prata e renda formavam um casquete, mantido durante a festa quando o véu de seda de 2,5 m foi deixado de lado. "Não é só colocar a renda por cima do tecido, nem fazer um patchwork", diz Emanuelle, "Às vezes eu reconstruo a própria renda, recorto, aplico."
 

As técnicas também foram usadas no vestido da atriz Juliana Paes, outra noiva que tirou o fôlego do público no mês passado. No corpete tomara-que-caia desenhado pelo estilista Samuel Cirnansck foi aplicada renda chantilly bordada com fio prateado. Na saia, duas variações do tecido ajudaram a dar volume ao modelo, arrematado com cristais.
 

Quando começou a fazer camisetas em São Paulo, há 15 anos, Cirnansck nem imaginava que disputaria mercado com estilistas tradicionais no segmento, como Wanda, Demi Queiroz, Marie Toscano e Junior Santaella. Assim como Emanuelle, sua entrada nesse mercado aconteceu por acaso, há cerca de sete anos, quando fez o primeiro vestido para um casamento, sem maiores pretensões. Desde então, metade de sua produção mensal é voltada a noivas como Andrea Nigri, filha do dono da Tecnisa, e Andrea Bartelli, herdeira da Grendene.
 

Seguindo a mesma toada, outros estilistas de renome que não têm ateliê específico para noivas vira-e-mexe também fazem suas incursões nesse universo. Caso de André Lima -que no começo do ano assinou o vestido de Marina Morena-, Carlos Tufvesson (Claudia Leitte e Angélica), Tufi Duek (Isabella Fiorentino) e Walter Rodrigues - que, apesar de não ter uma linha de noivas, já era referência no assunto quando foi escolhido para criar o figurino de Ana Maria Braga em seu casamento com Marcelo Frisoni.
 

Até mesmo Carlos Miele se prepara para ter um espaço reservado a essa clientela em sua loja no shopping Cidade Jardim, no próximo ano. Os primeiros modelos prêt-à-porter -sem muitas rendas ou detalhes característicos do estilo- já foram colocados nas araras, misturados às roupas brancas sem que muita gente notasse.

Reportagem JULIANA BIANCHI


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