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Teatro infantil "importa" sucessos da TV
Dia das Crianças é deixa para estréia de ‘Sítio do Picapau Amarelo’ e ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, que se juntam a ‘Cocoricó’
"Hoje em dia, quanto menos risco você correr, melhor; quando você faz um espetáculo inédito, parte quase do zero", diz diretor de "Sítio"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Recado aos pais: não se espantem ao passar os olhos pelos títulos "Castelo Rá-Tim-Bum", "Sítio do Picapau Amarelo" e "Cocoricó" no roteiro de
teatro infantil do Dia das
Crianças. Vocês não foram parar acidentalmente na programação de TV; eles é que saíram
de lá para os palcos paulistanos.
No próximo fim de semana,
as turmas de Nino e Narizinho
disputarão as atenções da garotada com Julio e sua trupe de
bonecos (em cartaz desde 13/
9). Diretores e produtores têm
visões diferentes sobre essa
abundância de montagens baseadas em grifes consagradas
na televisão -só o "Sítio" está
fora do ar atualmente.
Roberto Talma, diretor da
peça decalcada das criações de
Monteiro Lobato (e também da
primeira fase do "remake" da
série, em 2001), é taxativo:
"Hoje em dia, quanto menos
risco você correr, melhor. Vamos supor que haja de 30 a 40
mil pais que levarão os filhos
para assistir pelo fato de terem
conhecimento [da história]. Digamos que gostem e espalhem.
A gente então consegue fazer
um movimento grande. É diferente quando você faz um espetáculo inédito e parte quase do
zero. O universo de espectadores possíveis é muito pequeno.
Tem de contar com a sorte."
Mira Haar, diretora e produtora de "Castelo Rá-Tim-Bum:
Onde Está o Nino?", diverge. "É
preciso correr riscos, sim, para
se criar algo novo."
Mas trata-se aqui da remontagem de uma produção de 97.
"Eu trabalho por porcentagem de bilheteria. Estou correndo risco. Não vim aqui a negócio. Claro que [o risco] não é
tão grande, porque as pessoas
amam o "Castelo Rá-Tim-Bum",
temos a garantia de que o programa está no coração delas. O
desafio é não pasteurizar, diante de tanta tecnologia", avalia
ela, que se valerá de efeitos visuais para encenar truques de
mágica não vistos no seriado.
"Não é caça-níquel"
Fernando Gomes, autor, diretor e manipulador de bonecos de "Cocoricó, uma Aventura no Teatro", afirma que o projeto de levar os personagens ao
teatro nasceu junto do programa de TV, em 1996:
"Nunca pensei: "Vamos fazer
[no teatro] uma coisa de televisão porque isso terá mais público. Juro que tem muito de poesia, desse sonho de 12 anos. Definitivamente, não é um caça-níquel, até por que abri mão dos
hits da série em favor de músicas que se inserissem no contexto do espetáculo."
Ele diz que a peça demorou a
sair do papel pois, sempre que
havia um produtor interessado,
"as ideologias eram diferentes
das minhas". "Queriam montar
em teatro grande, com telão, ou
botar atores fantasiados como
os personagens [no programa,
só há bonecos]. Eram propostas que me envergonhavam.
Nunca quis enganar o público."
Problema parecido teve Haar
ao tentar comprar os direitos
de "Vila Sésamo" no ano passado. "Disseram que tinha de ser
show. Isso eu não topo, porque
só se ouve uma música e se vê
um boneco "cabeção". Gosto é
de fazer teatro."
Teatro que resulta fidelíssimo à matriz televisiva.
Mesmo intérprete
Em "Onde Está o Nino?" (sobre os efeitos de uma mágica do
personagem-título no meio
ambiente), a grande "importação" da TV foi justamente o intérprete original, Cássio Scapin
-ok, há também Luciano Amaral, o Pedro do programa, que
agora é assistente de direção.
O co-criador do seriado, Flávio de Souza, foi outro a fazer a
transição -ele assina a dramaturgia. Idem para a trilha de
André Abujamra, Arnaldo Antunes, Hélio Ziskind e outros.
No "Sítio" (costura dos livros
"Reinações de Narizinho" e "O
Picapau Amarelo" com pílulas
biográficas de Lobato), além de
Talma, a figurinista (Helena
Araújo, da primeira versão da
série, nos anos 70) pulou da telinha para o palco. Não é pouco
o que os produtores prometem:
cenário monumental, projeções 3-D, bonecos eletrônicos e
vôos sobre a platéia.
É "Cocoricó" que parece mimetizar com mais exatidão seu
"primo" televisivo: autor, equipe de manipuladores de bonecos e canções são os mesmos.
Tudo para mostrar o alvoroço
causado em Cocorilândia pela
passagem de um OVNI.
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