São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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A viagem de Alain de Botton

Escritor suíço, que narra em livro a experiência de passar uma semana no aeroporto de Heathrow, afirma que a aviação revela os principais temas da modernidade

Richard Baker/Divulgação
O filósofo Alain de Botton no aeroporto de Heathrow

MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO

E não é que os paulistanos que iam passar suas tardes em Congonhas, fascinados pelo subir e descer de aviões nos anos 60, tinham lá sua dose de razão?
"Os aeroportos são o centro imaginativo do mundo moderno. É lá que devemos ir para encontrar todos os temas da modernidade: globalização, velocidade, destruição ambiental, consumismo, crises familiares e perda da individualidade", diz à Folha Alain de Botton para explicar por que escreveu "Uma Semana no Aeroporto", que está saindo aqui.
Na verdade, a obra foi produzida por encomenda da administradora do aeroporto londrino de Heathrow.
Em meados deste ano, o autor suíço de língua inglesa passou uma semana trabalhando como escritor residente em uma mesa solitária no terminal cinco.
Trata-se de um prodígio do arquiteto inglês Richard Rogers inaugurado em 2008. De Botton tinha autorização para circular por todas as áreas e abordar quem quisesse -passageiros, autoridades da imigração, funcionários, áreas de embarque e desembarque e a cozinha.
"Essa semana passada lá foi a realização de um sonho, porque aeroportos se caracterizam justamente pelo excesso de medidas de segurança e por regulamentos pouco amistosos."

DUAS SOGRAS
Mas que personagens povoaram seu "sonho"?
O bígamo.
"Um passageiro me explicou que estava visitando sua família em Londres, mas tinha uma outra em Los Angeles que não sabia da existência da primeira. Tinha cinco filhos e duas sogras."
A humilhada.
"Havia também uma funcionária do check-in que, quando o passageiro a tratava de modo rude, informava a ele que o sistema o elevara de classe no voo. Após ver o sorriso de satisfação estampado no seu rosto, ela lhe dizia que a máquina desfizera a operação e o colocara de volta na classe inicial."

MORTES NO FREE SHOP
O que mais o surpreendeu? "A frequência de mortes. Em Heathrow, ocorrem, em média, três por semana -muitas no Free Shop."
"Aeroportos nos aproximam da possibilidade da morte. Isso nos liberta de inibições e hábitos cotidianos."
Mas nosso escritor é um otimista incorrigível: "A perspectiva de um acidente aéreo pode fazer maravilhas por um casamento debilitado".

UMA SEMANA NO AEROPORTO
AUTOR Alain de Botton
TRADUÇÃO Maria Luiza Jatobá
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 33,50 (124 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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