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29ª BIENAL DE ARTES
Performances exaltam falhas do vídeo
Projeto Tape Deck Solos convida artistas para mostrar material bruto usando só um videocassete e projetor
Ideia é resgatar estética característica desse suporte aposentado, fazer uma espécie de "arqueologia imediata"
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Está nas imperfeições a
mensagem. Numa espécie de
celebração da morte do vídeo
e ao mesmo tempo um resgate das fitas magnéticas, artistas vão mostrar na Bienal de
São Paulo recortes de material bruto em VHS, usando só
um videocassete e projetor.
Mesmo sem saber muito
bem o que está gravado, Tadeu Jungle, Carlos Nader e
Lucas Bambozzi são alguns
dos nomes que vão encarar a
plateia com solos improvisados de vídeo, como se orquestrassem essas imagens
em vias de esfacelamento
com os ecos tortos do jazz.
"Todo cinema é ao vivo",
diz Gabriel Menotti, pesquisador que está por trás do
projeto Tape Deck Solos. "É
uma manifestação imediata
dos aparelhos do cinema."
Mas no lugar de filme, projetor e todo o ritual que cerca
a grande tela, Menotti armou
um esquema modesto na Bienal. Mandou gente garimpar
sobras de material bruto e fitas esquecidas no armário de
casa para mostrar agora nesse outro tipo de performance.
"São imagens que nunca
seriam editadas, são suficientes como registro do momento", diz Menotti. "É o suporte que tentamos resgatar,
o videocassete como instrumento de análise e a ideia
performática de exibir de improviso, como solo musical."
Num momento em que artistas da novíssima geração
parecem empenhados em
resgatar a estética de suportes analógicos, do vinil ao filme super-8 e VHS, Menotti
tenta operar algo semelhante, entre o êxtase pelo passado e a tentativa de dar contornos mais claros ao vintage.
"É a ideia de exumar uma
coisa e fazer dela matéria-prima para novas imagens", define Menotti. "Faço uma arqueologia imediata, uma reflexão rápida antes que sumam essas características."
PERDA DO PRESENTE
No caso, essas características são o quadriculado que
aparece sobre a imagem gravada em mini-DV, as ondulações e falhas nas imagens
das fitas VHS envelhecidas.
"Artistas reconhecem esses formatos antigos, como o
super-8, mas não dão muita
atenção ao que está mais próximo deles", observa Menotti. "É uma percepção do presente que está se perdendo."
De fato, cada vez que um
desses vídeos é mostrado,
mais um pouco se perde.
Também faz parte dessa celebração do ocaso o desgaste
sofrido nas exibições, como
se voltassem a ser enterrados
esses fragmentos de imagem.
Na lógica do Tape Deck Solos, estão catalogados os materiais em imagens anteriores, aquelas que viraram filme depois, as impossíveis,
que nunca foram editadas, as
persistentes, transmutadas
em outros produtos, e suficientes, material bruto que
vale como obra final, como
filmes caseiros da família.
Suficientes ou não, são
tentativas de voltar os olhos
para a beleza estranha de um
passado recente, que ressurge agora todo refletido no espelho imperfeito do vídeo.
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