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OUTRA FREQUÊNCIA
Radinho de pilha vira "ouro" no caos de Florianópolis
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No caos de Florianópolis -
que passou mais de três dias
sem energia elétrica e com problemas na telefonia e no fornecimento de água-, o velho radinho de
pilha acabou virando herói.
Diante do apagão que assolou a
cidade na semana passada, AMs e
FMs transformaram-se no principal meio de comunicação entre as
autoridades e a população. Sem
ter como ligar a TV, moradores e
turistas da ilha catarinense correram a lojas e camelôs atrás de
walkmans e radinhos portáteis.
"Os ouvintes nos telefonavam
contando que não conseguiam
mais encontrar aparelhos de rádio para comprar. Com o aumento da demanda, houve exploração
no preço. A pilha, por exemplo,
que antes era encontrada por R$
1,99, chegou a ser vendida até por
R$ 6", afirma Nabor José Prazeres, 55, diretor da Guararema AM.
Líder de audiência dentre as
AMs, a rádio interrompeu sua
programação normal e manteve
cobertura praticamente ininterrupta dos transtornos na cidade.
Foi pelo rádio que a população
soube do cancelamento das aulas
na maioria das escolas, do fechamento do comércio, da confusão
no trânsito, dos locais onde assaltantes aproveitavam a escuridão
para agir. Foi também pelas estações que técnicos e políticos deram explicações sobre o acidente
nas linhas de transmissão de
energia e o consequente blecaute.
"Os ouvintes tinham muitas
perguntas. Tivemos até de ensinar como lidar com os alimentos
sem a geladeira. Mas eles também
foram grandes fontes de informação. Um rapaz nos telefonou enquanto entrevistávamos um engenheiro da Celesc [distribuidora
de energia no Estado] e disse onde
havia visto um clarão, o que ajudou os técnicos a localizar o foco
do incêndio", diz Prazeres.
Operações jornalísticas como a
de Florianópolis resultam em despesas para as emissoras. Além de
usar gerador para manter a transmissão, a Guararema arregimentou colaboradores, e sua equipe
trabalhou por incontáveis horas
extras, de quarta a domingo.
Mas situações como essa podem reverter em aumento de audiência e prestígio para o rádio.
Foi o que aconteceu com estações
de Nova York em decorrência do
serviço que prestaram à cidade na
tragédia do World Trade Center.
"Isso traz à tona até uma certa
mágoa com os grandes anunciantes, que concentraram os investimentos nas TVs e se esqueceram
do rádio. Nosso alcance é muito
grande para ser desprezado pelo
mercado." São as palavras do diretor da Guararema AM, de Florianópolis, e de dez em cada dez
empresários do setor em qualquer cidade do Brasil.
laura@folhasp.com.br
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