|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Sou parecida com minha mãe e estou feliz da vida", diz Maria Rita
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Maria Rita, 26 -que, após um
show e um CD de estréia muito
bem-sucedidos, lança agora um
DVD-, tem tudo para fazer muito bem à música brasileira.
A jovem cantora, por razões genéticas, de formação e de opções
musicais, remete a um passado de
ouro da MPB. Ao mesmo tempo,
devido a qualidades genuínas e
próprias, traz grandes promessas.
Não há, logo, por que temer falar do que, ao menos por enquanto, é inevitável: as lembranças que
traz de sua mãe, Elis Regina, que
morreu em 1982, quando Maria
Rita tinha apenas quatro anos.
Mas sua gravadora tenta minimizar questionamentos sobre as
referências à mãe. Em entrevista à
Folha, um funcionário da Warner
entrou no meio da conversa por
telefone para impedir que se falasse do tema. Sorte que Maria Rita
consertou o estrago.
Folha - Quando gravou o DVD?
Maria Rita - No Bourbon Street,
em São Paulo, em 11 de agosto.
Folha - Sente já ter havido uma
evolução em seu canto?
Maria Rita - Não. Algumas pessoas sentem. Mas me sinto igual.
Folha - Um lugar-comum que se
ouve por aí é que você já nasceu
pronta. Como você aprendeu a cantar?
Maria Rita - Não sei, é natural,
sempre cantamos em casa, na mesa, fazendo bagunça. Meu pai [o
músico Cesar Camargo Mariano]
compunha de porta aberta.
Folha - Você faz aulas de canto?
Maria Rita - Fiz para aprimorar e
aprender a preservar a voz.
Folha - Um dos aspectos debatidos de seu CD é que ele remete à
MPB dos anos 70 e 80, mesmo
quando canta compositores jovens. Isso te preocupa?
Maria Rita - Não. Minha preocupação era me mostrar como intérprete. Quis que a base instrumental fosse simples para mostrar a
minha voz, a que vim. Acho bonito valorizar os elementos, a união
entre intérprete, autor, arranjador
e músicos. Busco o orgânico.
Folha - Você demonstra cuidado
quando se estabelece uma relação
entre você e sua mãe, mas seu trabalho remete a coisas fortes dela,
como os ornamentos, a emoção, o
humor, os compositores escolhidos. Foi uma opção consciente?
Maria Rita - Minha mãe foi a melhor intérprete, e meu pai, o melhor arranjador. São referências
para todos os bons músicos e para
o público. Minha opção foi a de
mostrar a minha voz e meu trabalho. Se é semelhante à de minha
mãe, nada posso fazer. [Alguém
interrompe a entrevista] Otávio,
eu sou o Marcelo, da Warner. A
gente pode falar mais do DVD?
Folha - Deixa eu continuar com a
Maria Rita. A minha tese é que, já
que não havia como evitar as comparações, você buscou estabelecer
um elo muito estreito para resolver
isso de uma vez por todas.
Maria Rita - Não quero ser antipática, mas não tento estabelecer
ou quebrar elos. Se confirmo, vão
me chicotear. Se tento negar, vão
me chicotear também.
Folha - Quero deixar claro que
não acho que você imite sua mãe.
Falo de suas opções, de seu gosto.
Maria Rita - Isso é um mistério.
Não sei explicar, mas posso te garantir que não é proposital. Sou
parecida com ela, gravo quem eu
gosto e estou feliz da vida.
Texto Anterior: De volta ao paradoxo de "Televisão" Próximo Texto: Crítica: DVD põe lupa em revelação Índice
|