São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O favorito

Aos 20 anos e ainda na faculdade de cinema, diretor Matheus Souza ganhou o prêmio de público dos dois maiores festivais do país com seu primeiro longa, "Apenas o Fim", sobre o rompimento de um casal

Pedro Carrilho/Folha Imagem
O diretor Matheus Souza, na sede da produtora Morena Filmes, de Mariza Leão, no Rio de Janeiro

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele tem 20 anos, convive com sete graus de miopia (3,5 em cada lado da visão) desde a infância e um histórico de "cara que não é o mais popular do colégio". De repente, Matheus Souza foi cortejado pelo sucesso.
Com a comédia romântica "Apenas o Fim", que produziu a partir de uma rifa de uísque e rodou no mês de férias da faculdade (a PUC-RJ), ele venceu os dois maiores festivais de cinema do país -no voto popular.
Na euforia da primeira vitória, no Festival do Rio, no último dia 9/10, lembrou-se de todos. E de todas. "Agradeço a minha ex e a minha psi", disse, depois de ressaltar o trabalho colaborativo da equipe. "Filmamos em janeiro. A gente poderia ter ido para Búzios."
A vitória na 32ª Mostra de São Paulo, ocorrida na última quinta, foi ainda mais "surpreendente" para ele. "O público de São Paulo é diferente. Eles riam de algumas piadas que, aqui no Rio, não riam. Foi bom ganhar fora de casa", diz.
Nascido em Brasília, filho único de pais separados, Souza chama o Rio de Janeiro de "casa" desde os oito anos, quando se mudou com a mãe para a capital fluminense.
Na hora do vestibular, não pensou em outro ofício que o de fazer filmes. "Desde que me entendo por gente, sempre fui apaixonado por cinema. Fui ver "A Bela e a Fera", quando tinha uns três anos, e decidi que era aquilo que queria fazer -relógios e castiçais cantando", diz. Está no sexto período do curso, que tem oito, no total.

"Pai-cinema"
O fato de seu pai ser um sujeito que "fala pouco" e aprecia cinema acabou incrementando a prática cinéfila de Souza. "Quando eu ficava com ele, fim de semana, sim; fim de semana, não, a gente passava na locadora e pegava uns dez títulos, de todos os tipos. Ficávamos o dia inteiro vendo filme. Esse era meu diálogo com ele. É como se meu pai fosse o cinema", conta.
"Apenas o Fim" está recheado das referências cinematográficas do diretor -de "Transformers" a Godard (leia trechos à esq.). O tema do filme -uma relação de amor entre jovens universitários que se desmancha- está diretamente relacionado à experiência do diretor.
Na trama, ela (Érika Mader) decide, sem razão aparente, ir embora da cidade e da vida dele (Gregório Duvivier). Antes de partir, propõe que os dois passem uma hora juntos. É o tempo em que o filme se desenrola.
Souza diz que "a situação não existiu de tal modo [em sua vida]", mas afirma: "Quis falar sobre o que eu sabia. E o que eu sabia era o que eu vivi".

Woody Allen
O traço escancaradamente biográfico de "Apenas o Fim" e a exploração cômica de um personagem pouco ajustado aos padrões da "normalidade" fizeram Souza ser comparado a Woody Allen e a Domingos Oliveira, o "Woody Allen brasileiro", nos festivais que venceu.
"Os dois são minhas maiores inspirações, mas não acho que chegue perto deles", diz Souza, que tem em Allen seu "favorito" e, em Oliveira, um novo amigo. "Ele assistiu meu filme e, depois, me adotou. Me chamou para ser assistente dele."
Quando Oliveira surpreendeu o cinema brasileiro com uma estréia sobre a dor das relações amorosas, "Todas as Mulheres do Mundo" (1966), remava contra a corrente de tom político do cinema novo.
Se Souza dribla agora a maré do "favela movie", é casualmente, diz. "Não é uma atitude política. Não saberia fazer um filme de favela. Gostaria de fazer algo sincero e em que acredito. Acho que tem a ver com eu reconhecer o meu potencial."


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Longa estréia em 2009, após festivais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.