São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Filme acerta ao preservar psicologia do personagem

35ª MOSTRA DE SP "Respirar" foi escolhido o melhor longa de ficção

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAçÃO PARA A FOLHA

O austríaco "Respirar", de Karl Markovics, foi escolhido o melhor longa de ficção pelo júri oficial da 35ª Mostra Internacional de Cinema de SP.
A decisão não foi injusta, mas, para um evento que exibiu quase 300 trabalhos, alguns deles de diretores como Marco Bellocchio e Werner Herzog, o filme de Markovics não é o mais representativo.
O motivo é sabido. A Mostra, por um procedimento democrático, destina à escolha do júri oficial os filmes mais votados pelo público. E os critérios da plateia são sempre voláteis, imprecisos. Por isso, não é raro um trabalho "de ponta" ser preterido por um de apelo mais popular, mais "simpático".
Mas a Mostra concede à crítica a missão de escolher aquele filme que responda a algo crucial sobre o cinema.
Seria injusto, entretanto, não lembrar que, ao longo desses 35 anos, o público já escolheu grandes trabalhos, e a crítica já optou por bobagens sentimentalistas.
A crítica escolheu bem neste 2011, com "Era Uma Vez na Anatólia", de Nuri Bilge Ceylan.
Mas "Respirar" está longe de ser banal. O ator Karl Markovics estreia na direção com o bom senso de lidar com o mínimo e, sua escolha mais feliz, delegar a força da cena ao ator Thomas Schubert.
Excelente, Schubert interpreta Roman Kogler, jovem rebelde de 19 anos, abandonado pela mãe, com dificuldade de sociabilidade e interno num centro de detenção.
Após várias tentativas frustradas, ele acaba conseguindo um trabalho no serviço funerário, dirigindo os carros e carregando, limpando e vestindo cadáveres. O serviço lhe é terrível, e aqui o rosto de Kogler (e de Schubert) torna-se uma usina de sentimentos.
Ainda que "Respirar" lembre bastante o registro mais "frio" do cinema germânico de um Michael Haneke, essa opção em manter preservado, misterioso até, o que se passa no interior dos seus personagens lembra muito o cinema de Robert Bresson.
Assim como os personagens de Bresson, Kogler nos é acessível por aquilo que faz. Seu semblante será a única janela de acesso. O que é bem interessante para um filme que, em síntese, seria um drama psicológico, pois é a história de superação de um rapaz que quer fazer as pazes com seu passado.
Longe de ser memorável, a fita vale pelo "tour de force" do ator, algo que quase sempre mexe com os brios de público, júri e críticos.
O filme não será exibido na repescagem.

RESPIRAR
AVALIAÇÃO bom


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