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NET CETERA
Quando o amor platônico é pelo computador
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Essa quem descobriu foi
Leander Kahney, da "Wired", mas vale a pena reproduzir
aqui: durante um ano o nova-iorquino Mark Allen manteve um
relacionamento amoroso exclusivamente on-line com Bryan, um
sujeito que vivia no Texas.
Sem nunca terem se encontrado
ao vivo, os dois se conheceram,
flertaram, "ficaram" e começaram a namorar pelo computador.
Além dos tradicionais e-mails e
mensagens instantâneas, a relação tinha direito a webcam de alta
definição e áudio. Nas datas redondas, os dois comemoravam
"jantando" juntos, à luz de velas,
Mark pedindo a mesma comida
chinesa em Nova York que Bryan
havia pedido no Texas. Logo, passaram a "dormir" juntos, ou seja,
levaram a webcam para a cama.
Ao completar um ano, os dois
decidiram que era hora de se conhecerem ao vivo. Bryan pegou
um avião e foi encontrar Mark.
Cara a cara, não foi a mesma coisa. É quando o nova-iorquino
percebe que estava apaixonado
por seu Apple, e não pela pessoa
do outro lado da linha (ou do cabo). Nasce aí seu site, o bem escrito www.markallencam.com.
"Descobri que, para mim, Bryan,
meu namorado virtual, era na
verdade meu PowerMac, minha
webcam e meu telefone. Ele vivia
dentro da máquina, que eu podia
controlar como a um interruptor.
O namorado perfeito."
O cybergay definiu seu caso como o de um animista, ou, indo
além, de alguém que desenvolve
desejos sexuais por um objeto. A
diferença entre este e o fetichismo, diz ele, é que o último é a atração por objetos em geral, como
carros, enquanto o primeiro é a
atração por um objeto específico,
por exemplo, o seu carro.
"Em outras palavras", escreve
Mark, "você pode descobrir que o
que separa sua atração pelo rosto
de seu amante da atração pelo
monitor de seu computador é
uma linha tênue". De volta à "Wired", o conceito não é novo: teria
surgido pela primeira vez no trabalho de Eija-Riitta Eklöf-Berliner-Mauer no final dos anos 70.
Essa sueca se casou com o Muro
de Berlim ("Berliner Mauer", em
alemão), em 79. Ela conseguiu registrar no equivalente a um cartório que seu marido era a divisão
de concreto que então separava a
parte comunista da parte ocidental da cidade e que viria a cair no
final dos anos 80, no que ela chama de "A Tragédia de 9 de novembro de 1989"... Depois de ter
sumido, nos últimos anos ela vem
conduzindo um chat sobre desejo
sexual por objetos, em www.guillotine.net, com direito a fotos. Até que ela é bonitinha; o Muro deve ser um marido orgulhoso.
E-mail: sergiodavila@uol.com.br
Site: www.uol.com.br/sergiodavila
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