São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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NET CETERA

Quando o amor platônico é pelo computador

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Essa quem descobriu foi Leander Kahney, da "Wired", mas vale a pena reproduzir aqui: durante um ano o nova-iorquino Mark Allen manteve um relacionamento amoroso exclusivamente on-line com Bryan, um sujeito que vivia no Texas.
Sem nunca terem se encontrado ao vivo, os dois se conheceram, flertaram, "ficaram" e começaram a namorar pelo computador. Além dos tradicionais e-mails e mensagens instantâneas, a relação tinha direito a webcam de alta definição e áudio. Nas datas redondas, os dois comemoravam "jantando" juntos, à luz de velas, Mark pedindo a mesma comida chinesa em Nova York que Bryan havia pedido no Texas. Logo, passaram a "dormir" juntos, ou seja, levaram a webcam para a cama.
Ao completar um ano, os dois decidiram que era hora de se conhecerem ao vivo. Bryan pegou um avião e foi encontrar Mark. Cara a cara, não foi a mesma coisa. É quando o nova-iorquino percebe que estava apaixonado por seu Apple, e não pela pessoa do outro lado da linha (ou do cabo). Nasce aí seu site, o bem escrito www.markallencam.com. "Descobri que, para mim, Bryan, meu namorado virtual, era na verdade meu PowerMac, minha webcam e meu telefone. Ele vivia dentro da máquina, que eu podia controlar como a um interruptor. O namorado perfeito."
O cybergay definiu seu caso como o de um animista, ou, indo além, de alguém que desenvolve desejos sexuais por um objeto. A diferença entre este e o fetichismo, diz ele, é que o último é a atração por objetos em geral, como carros, enquanto o primeiro é a atração por um objeto específico, por exemplo, o seu carro.
"Em outras palavras", escreve Mark, "você pode descobrir que o que separa sua atração pelo rosto de seu amante da atração pelo monitor de seu computador é uma linha tênue". De volta à "Wired", o conceito não é novo: teria surgido pela primeira vez no trabalho de Eija-Riitta Eklöf-Berliner-Mauer no final dos anos 70.
Essa sueca se casou com o Muro de Berlim ("Berliner Mauer", em alemão), em 79. Ela conseguiu registrar no equivalente a um cartório que seu marido era a divisão de concreto que então separava a parte comunista da parte ocidental da cidade e que viria a cair no final dos anos 80, no que ela chama de "A Tragédia de 9 de novembro de 1989"... Depois de ter sumido, nos últimos anos ela vem conduzindo um chat sobre desejo sexual por objetos, em www.guillotine.net, com direito a fotos. Até que ela é bonitinha; o Muro deve ser um marido orgulhoso.

E-mail: sergiodavila@uol.com.br
Site: www.uol.com.br/sergiodavila


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