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CINEMA/ESTRÉIA
Produção de Joe Dante mistura atores com figuras famosas de desenhos animados, como Patolino
"Looney Tunes" une inocência e sarcasmo
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Além da santíssima trindade
Spielberg, Scorsese e Coppola, a geração que renovou o cinema americano a partir dos anos
1970 produziu também seus filhos
malditos. John Landis ("Os Irmãos Cara-de-pau"), John Carpenter ("Halloween") e Joe Dante
("Gremlins", "Viagem Insólita")
podem não ter alcançado o Olimpo do prestígio e das megabilheterias, mas fizeram filmes vigorosos
e, em sua maior parte, deliciosos.
Talvez em função do sucesso de
"Gremlins", Joe Dante levou a fama de ser o mais infantil de todos.
É dele a direção de "Looney Tunes: De Volta à Ação", aposta da
Warner Bros. para esta temporada de férias, misturando atores
em carne e osso (como Brendan
Fraser) com seus principais personagens em desenho animado.
A escolha é certeira: Dante sempre foi apaixonado pelos cartoons
da Warner e, em seus filmes, prestou várias homenagens ao desenhista Chuck Jones (1912-2002), o
criador de Pernalonga, Patolino e
companhia.
A infantilidade de Dante, no entanto, é enganadora. Seu humor é
corrosivo, pouco inocente e forrado de piadas sarcásticas. Vale a
pena tomar o exemplo da série
"Gremlins": os dois filmes (de
1984 e 1990) são muito mais do
que meras fábulas sobre bichos
fofos transformados em monstrinhos. Ambos desferem críticas
ácidas à avidez capitalista da sociedade americana, e "Gremlins
2", para se ter uma idéia, se passa
na Trump Tower, em Nova York
(EUA).
Em "Looney Tunes", as críticas
são ainda mais ferozes e chegam a
cutucar a própria Warner Bros. A
trama começa quando Kate
Housloton (Jenna Elfman), vice-presidente da Warner para comédias (desprovida de qualquer senso de humor), demite Patolino
porque ele tem baixo índice de
popularidade. Com isso, Pernalonga perde seu antagonista e
suas piadas não funcionam mais.
Chega a vez de Kate ser demitida.
"Como? Meus filmes renderam
milhões de dólares!", ela questiona. "Mas não chegaram a um bilhão", retrucam os irmãos Warner, uníssonos.
A única saída de Kate será convencer Patolino a voltar. E, assim,
ela termina se envolvendo em
uma aventura maluca, em torno
da procura por um diamante azul
capaz de transformar pessoas em
macacos, e que, por sua vez, está
sendo ambicionado pelo arquivilão da Acme Corporation, sr.
Chairman, um patético empresário interpretado por Steve Martin,
irreconhecível.
"Looney Tunes" não chega a
funcionar de todo, mas tem algumas grandes piadas, ótimas participações e, principalmente, mantém o espírito alucinado, anárquico e por vezes violento dos antigos cartoons da Warner. Joe Dante não resiste e escala seu mestre
Roger Corman, mestre dos "filmes B" que produziu seus dois
primeiros longas ("Hollywood
Boulevard" e "Piranha"), para interpretar um diretor de cinema.
Mas, na verdade, são mesmo as
aparições de criaturas animadas,
como Papaléguas e Coiote, o Sapo
Cantor, Piu-Piu e Frajola, entre
tantos outros, que ajudam a desopilar o fígado e acabam fazendo
valer a sessão.
Looney Tunes: De Volta à Ação
Looney Tunes: Back in Action
Direção: Joe Dante
Produção: EUA, 2003
Com: Brendan Fraser, Jenna Elfman,
Steve Martin, Timothy Dalton
Quando: a partir de hoje, no Frei Caneca
Unibanco Arteplex 5, Metrô Santa Cruz 9,
Ipiranga 1 e circuito
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