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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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CINEMA/ESTRÉIA

Produção de Joe Dante mistura atores com figuras famosas de desenhos animados, como Patolino

"Looney Tunes" une inocência e sarcasmo

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Além da santíssima trindade Spielberg, Scorsese e Coppola, a geração que renovou o cinema americano a partir dos anos 1970 produziu também seus filhos malditos. John Landis ("Os Irmãos Cara-de-pau"), John Carpenter ("Halloween") e Joe Dante ("Gremlins", "Viagem Insólita") podem não ter alcançado o Olimpo do prestígio e das megabilheterias, mas fizeram filmes vigorosos e, em sua maior parte, deliciosos.
Talvez em função do sucesso de "Gremlins", Joe Dante levou a fama de ser o mais infantil de todos. É dele a direção de "Looney Tunes: De Volta à Ação", aposta da Warner Bros. para esta temporada de férias, misturando atores em carne e osso (como Brendan Fraser) com seus principais personagens em desenho animado. A escolha é certeira: Dante sempre foi apaixonado pelos cartoons da Warner e, em seus filmes, prestou várias homenagens ao desenhista Chuck Jones (1912-2002), o criador de Pernalonga, Patolino e companhia.
A infantilidade de Dante, no entanto, é enganadora. Seu humor é corrosivo, pouco inocente e forrado de piadas sarcásticas. Vale a pena tomar o exemplo da série "Gremlins": os dois filmes (de 1984 e 1990) são muito mais do que meras fábulas sobre bichos fofos transformados em monstrinhos. Ambos desferem críticas ácidas à avidez capitalista da sociedade americana, e "Gremlins 2", para se ter uma idéia, se passa na Trump Tower, em Nova York (EUA).
Em "Looney Tunes", as críticas são ainda mais ferozes e chegam a cutucar a própria Warner Bros. A trama começa quando Kate Housloton (Jenna Elfman), vice-presidente da Warner para comédias (desprovida de qualquer senso de humor), demite Patolino porque ele tem baixo índice de popularidade. Com isso, Pernalonga perde seu antagonista e suas piadas não funcionam mais. Chega a vez de Kate ser demitida. "Como? Meus filmes renderam milhões de dólares!", ela questiona. "Mas não chegaram a um bilhão", retrucam os irmãos Warner, uníssonos.
A única saída de Kate será convencer Patolino a voltar. E, assim, ela termina se envolvendo em uma aventura maluca, em torno da procura por um diamante azul capaz de transformar pessoas em macacos, e que, por sua vez, está sendo ambicionado pelo arquivilão da Acme Corporation, sr. Chairman, um patético empresário interpretado por Steve Martin, irreconhecível.
"Looney Tunes" não chega a funcionar de todo, mas tem algumas grandes piadas, ótimas participações e, principalmente, mantém o espírito alucinado, anárquico e por vezes violento dos antigos cartoons da Warner. Joe Dante não resiste e escala seu mestre Roger Corman, mestre dos "filmes B" que produziu seus dois primeiros longas ("Hollywood Boulevard" e "Piranha"), para interpretar um diretor de cinema. Mas, na verdade, são mesmo as aparições de criaturas animadas, como Papaléguas e Coiote, o Sapo Cantor, Piu-Piu e Frajola, entre tantos outros, que ajudam a desopilar o fígado e acabam fazendo valer a sessão.


Looney Tunes: De Volta à Ação
Looney Tunes: Back in Action
   
Direção: Joe Dante Produção: EUA, 2003 Com: Brendan Fraser, Jenna Elfman, Steve Martin, Timothy Dalton Quando: a partir de hoje, no Frei Caneca Unibanco Arteplex 5, Metrô Santa Cruz 9, Ipiranga 1 e circuito



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