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GATO COLETIVO
Morador desavisado pode pagar por gambiarra de zelador ou síndico; hotéis e motéis aderem à pirataria
TV pirata vira negócio em condomínios
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Instaladores de TV paga pirata
têm agora um novo foco: condomínios de casas ou apartamentos.
A pedido de síndicos ou zeladores, empresas clandestinas instalam um aparelho capaz de distribuir a assinatura de um único pacote a todos condôminos.
Com isso, um pacote de canais
que chega a custar mais de R$ 100
por mês para cada um chega a sair
por menos da metade do preço.
Muitas vezes desavisados, os
moradores também podem responder juridicamente pela pirataria, considerada crime, com penas que variam de multa a quatro
anos de detenção (veja ao lado como reconhecer a ilegalidade).
O esquema é a mais recente
preocupação das TVs fechadas, e
as empresas prejudicadas iniciam
um mapeamento dos casos de
clandestinidade. A fraude coletiva
atinge várias cidades e todas as
classes sociais, inclusive moradias
de luxo, hotéis e motéis, segundo
a ABTA (Associação Brasileira de
TV por Assinatura).
"Calculamos que haja no país
perto de 300 mil ligações clandestinas, ou seja, 14% dos assinantes
regulares de TV a cabo. A pirataria em condomínios está fora dessa estatística e percebemos um
crescimento. Há prédios de classe
A e casos assustadores de hotéis
importantes que fazem ligações
clandestinas", afirma Antonio Salles, coordenador da comissão antipirataria da ABTA, que iniciará
em 2005 uma campanha exclusivamente dedicada aos "gatos" de
prédios e conjuntos residenciais.
Além do preço baixo, a fraude
oferece aos condôminos a possibilidade de assistir a canais exclusivos de duas operadoras diferentes. "Eles misturam, por exemplo,
a HBO da DirecTV, com o Telecine da Sky", explica Salles.
A pirataria, no entanto, além de
ser crime, costuma oferecer um
serviço tecnicamente ineficiente.
O caso do microempresário N.
(ele pede para não ser identificado), 41, é típico das gambiarras
em condomínios, batizada pelas
empresas de "pirataria comercial". Morador de um apartamento de 100 m2 em Cascavel (PR), ele
chamou um fornecedor indicado
pela síndica e contratado por quase todos os 116 condôminos do
prédio. Por um pacote básico, pagava R$ 17 por mês ao instalador,
que recolhia as mensalidades pessoalmente.
A forma de cobrança e o preço
são indícios de irregularidade, já
que as assinaturas mais baratas
custam em torno de R$ 45 e as
operadoras normalmente emitem boletos bancários.
"Achei o preço baixo, mas, como foi indicado pela síndica, não
fazia idéia de que era pirata. Com
o tempo, passei a desconfiar porque o serviço era muito ruim, a
TV ficava fora do ar vários dias e
eu nunca conseguia falar com o
responsável pela instalação", diz.
Após se certificar de que havia
contratado um serviço ilegal, retirou os equipamentos de seu apartamento e adquiriu, por R$ 47 por
mês, um pacote da empresa que
atua regularmente na região.
As cidades de Cascavel e Ponta
Grossa, no Paraná, foram palco
recentemente de operações de
apreensão de equipamentos de
TV clandestina em condomínios,
entre eles o do microempresário
N. Quando tudo foi descoberto, a
síndica se mudou do local e não
deixou o novo endereço aos antigos vizinhos.
"A pirataria é nosso maior concorrente, e Cascavel é um dos
principais focos, talvez pela proximidade com a fronteira do Paraguai, onde há facilidade da compra da tecnologia necessária [à
gambiarra]", afirma Guilherme
Godoy, diretor-presidente da
BigTV, operadora com autorização para operar em Guarulhos
(Grande SP) e em cidades do interior de São Paulo, no Paraná, em
Alagoas e na Paraíba.
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