São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GATO COLETIVO

Morador desavisado pode pagar por gambiarra de zelador ou síndico; hotéis e motéis aderem à pirataria

TV pirata vira negócio em condomínios

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Instaladores de TV paga pirata têm agora um novo foco: condomínios de casas ou apartamentos. A pedido de síndicos ou zeladores, empresas clandestinas instalam um aparelho capaz de distribuir a assinatura de um único pacote a todos condôminos.
Com isso, um pacote de canais que chega a custar mais de R$ 100 por mês para cada um chega a sair por menos da metade do preço.
Muitas vezes desavisados, os moradores também podem responder juridicamente pela pirataria, considerada crime, com penas que variam de multa a quatro anos de detenção (veja ao lado como reconhecer a ilegalidade).
O esquema é a mais recente preocupação das TVs fechadas, e as empresas prejudicadas iniciam um mapeamento dos casos de clandestinidade. A fraude coletiva atinge várias cidades e todas as classes sociais, inclusive moradias de luxo, hotéis e motéis, segundo a ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura).
"Calculamos que haja no país perto de 300 mil ligações clandestinas, ou seja, 14% dos assinantes regulares de TV a cabo. A pirataria em condomínios está fora dessa estatística e percebemos um crescimento. Há prédios de classe A e casos assustadores de hotéis importantes que fazem ligações clandestinas", afirma Antonio Salles, coordenador da comissão antipirataria da ABTA, que iniciará em 2005 uma campanha exclusivamente dedicada aos "gatos" de prédios e conjuntos residenciais.
Além do preço baixo, a fraude oferece aos condôminos a possibilidade de assistir a canais exclusivos de duas operadoras diferentes. "Eles misturam, por exemplo, a HBO da DirecTV, com o Telecine da Sky", explica Salles.
A pirataria, no entanto, além de ser crime, costuma oferecer um serviço tecnicamente ineficiente. O caso do microempresário N. (ele pede para não ser identificado), 41, é típico das gambiarras em condomínios, batizada pelas empresas de "pirataria comercial". Morador de um apartamento de 100 m2 em Cascavel (PR), ele chamou um fornecedor indicado pela síndica e contratado por quase todos os 116 condôminos do prédio. Por um pacote básico, pagava R$ 17 por mês ao instalador, que recolhia as mensalidades pessoalmente.
A forma de cobrança e o preço são indícios de irregularidade, já que as assinaturas mais baratas custam em torno de R$ 45 e as operadoras normalmente emitem boletos bancários.
"Achei o preço baixo, mas, como foi indicado pela síndica, não fazia idéia de que era pirata. Com o tempo, passei a desconfiar porque o serviço era muito ruim, a TV ficava fora do ar vários dias e eu nunca conseguia falar com o responsável pela instalação", diz.
Após se certificar de que havia contratado um serviço ilegal, retirou os equipamentos de seu apartamento e adquiriu, por R$ 47 por mês, um pacote da empresa que atua regularmente na região.
As cidades de Cascavel e Ponta Grossa, no Paraná, foram palco recentemente de operações de apreensão de equipamentos de TV clandestina em condomínios, entre eles o do microempresário N. Quando tudo foi descoberto, a síndica se mudou do local e não deixou o novo endereço aos antigos vizinhos.
"A pirataria é nosso maior concorrente, e Cascavel é um dos principais focos, talvez pela proximidade com a fronteira do Paraguai, onde há facilidade da compra da tecnologia necessária [à gambiarra]", afirma Guilherme Godoy, diretor-presidente da BigTV, operadora com autorização para operar em Guarulhos (Grande SP) e em cidades do interior de São Paulo, no Paraná, em Alagoas e na Paraíba.



Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Indicação ou censura?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.