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Leitura cômica de diários juvenis vira febre nos EUA
Em "Mortified", show que se vende também como terapia
grupal, participantes revisitam anotações da adolescência
Espetáculo de humor, que já
rendeu livro homônimo e
curta de animação, começa
a ser adaptado para o
cinema, além de virar jogo
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Bem antes da febre de blogs,
flogs (fotologs) e vlogs (videologs) inaugurar a bisbilhotice
consentida, descrições embaraçosas de primeiros beijos,
paixões platônicas e rivalidades
escolares ficavam restritas às
páginas de diários guardados a
cadeado e cartas de amor jamais enviadas. Que tal seria
vasculhar o arquivo pessoal em
busca de algumas pérolas de
angústia juvenil, explorar seu
teor cômico para entreter uma
platéia e, de quebra, exorcizar
fantasmas da adolescência?
É o que propõe, há quatro
anos, o roteirista norte-americano David Nadelberg, criador
de "Mortified", misto de show
de humor e terapia de grupo
que é sensação por onde passa,
deu origem a um livro homônimo recém-publicado nos EUA
(à venda no www.amazon.com) e a um curta de animação (que pode ser visto no
YouTube), deve virar um jogo
caseiro e já começa a ser adaptado para o cinema.
Carta de amor
Em entrevista por telefone à
Folha, Nadelberg diz que a
idéia para o "pocket-show" surgiu depois que ele achou uma
carta de amor não enviada em
que, como se fosse um produto,
listava suas qualidades para a
eventual "compradora", uma
garota por quem tinha uma
queda no 2º grau. Mais de 200
pessoas aceitaram o convite dele para revisitar anotações empoeiradas: depois de Los Angeles, "Mortified" ganhou montagens em Chicago, Boston, Nova
York e San Francisco.
Vocação para a comédia não
é pré-requisito para participar
da catarse grupal, garante o
criador. "Não nos importamos
se você é engraçado ou escreve
bem. O que vale não é o que você é hoje, é o que era naquela
época." Na escalação do elenco,
atores são bem-vindos, desde
que atendam a uma condição.
"Eles têm dificuldade em "interpretar" a si próprios. Queremos pessoas boas nisso."
Deveres de casa, bilhetes,
poemas, músicas: tudo serve de
matéria-prima a "Mortified".
Mas há regras para garantir a
autenticidade das performances. "Não se pode criar ou alterar o texto, mas é permitido
editar, retirando algum parágrafo ou trecho irrelevante",
diz Nadelberg, que explica o sucesso de "Mortified": "É um
constrangimento seguro e catártico. Estamos rindo de nós
mesmos, de alguém que já não
somos mais... ou secretamente
ainda somos".
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