São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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Leitura cômica de diários juvenis vira febre nos EUA

Em "Mortified", show que se vende também como terapia grupal, participantes revisitam anotações da adolescência

Espetáculo de humor, que já rendeu livro homônimo e curta de animação, começa a ser adaptado para o cinema, além de virar jogo

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Bem antes da febre de blogs, flogs (fotologs) e vlogs (videologs) inaugurar a bisbilhotice consentida, descrições embaraçosas de primeiros beijos, paixões platônicas e rivalidades escolares ficavam restritas às páginas de diários guardados a cadeado e cartas de amor jamais enviadas. Que tal seria vasculhar o arquivo pessoal em busca de algumas pérolas de angústia juvenil, explorar seu teor cômico para entreter uma platéia e, de quebra, exorcizar fantasmas da adolescência?
É o que propõe, há quatro anos, o roteirista norte-americano David Nadelberg, criador de "Mortified", misto de show de humor e terapia de grupo que é sensação por onde passa, deu origem a um livro homônimo recém-publicado nos EUA (à venda no www.amazon.com) e a um curta de animação (que pode ser visto no YouTube), deve virar um jogo caseiro e já começa a ser adaptado para o cinema.

Carta de amor
Em entrevista por telefone à Folha, Nadelberg diz que a idéia para o "pocket-show" surgiu depois que ele achou uma carta de amor não enviada em que, como se fosse um produto, listava suas qualidades para a eventual "compradora", uma garota por quem tinha uma queda no 2º grau. Mais de 200 pessoas aceitaram o convite dele para revisitar anotações empoeiradas: depois de Los Angeles, "Mortified" ganhou montagens em Chicago, Boston, Nova York e San Francisco.
Vocação para a comédia não é pré-requisito para participar da catarse grupal, garante o criador. "Não nos importamos se você é engraçado ou escreve bem. O que vale não é o que você é hoje, é o que era naquela época." Na escalação do elenco, atores são bem-vindos, desde que atendam a uma condição. "Eles têm dificuldade em "interpretar" a si próprios. Queremos pessoas boas nisso."
Deveres de casa, bilhetes, poemas, músicas: tudo serve de matéria-prima a "Mortified". Mas há regras para garantir a autenticidade das performances. "Não se pode criar ou alterar o texto, mas é permitido editar, retirando algum parágrafo ou trecho irrelevante", diz Nadelberg, que explica o sucesso de "Mortified": "É um constrangimento seguro e catártico. Estamos rindo de nós mesmos, de alguém que já não somos mais... ou secretamente ainda somos".


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