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Crítica/"Appaloosa - Uma Cidade sem Lei"
Mesmo hesitante, Harris renova faroeste
Personagem de Zellweger destoa das mulheres retratadas pela tradição do western em "Appaloosa - Uma Cidade sem Lei"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Todo faroeste contemporâneo é antes de tudo
evocação dos faroestes
do passado. Existe uma ou outra exceção, mas "Appaloosa"
não faz parte delas.
É como se Ed Harris, o diretor, buscasse sempre entrar em
contato com um tempo passado, tais e tantos são os momentos em que vemos a tradição se
enfiar em seu faroeste.
Appaloosa, no Novo México,
é uma cidadezinha dominada,
nos idos de 1880, pelo vilão
Randall Bragg (Jeremy Irons).
Para combatê-lo são contratados dois veteranos da Guerra
de Secessão, o xerife Virgil Cole
(Harris) e seu assistente Everett Hitch (Viggo Mortensen).
Na verdade, não existe problema maior nesse recurso à
tradição: o faroeste é assim
mesmo, um gênero tradicional.
No mais, Harris empenha-se
em fazer um filme "de ator": o
que coloca em destaque é antes
de mais nada o talento dos colegas que trabalham no filme.
Até o uso preferencial dos
tempos longos trabalha a favor
deles. Esses tempos também
ajudam a compor uma atmosfera estranha, sobretudo no início: os personagens são bem
mais reflexivos do que se pode
esperar dos habituais westerns.
Estabelecido que o combate
central do filme é entre Bragg e
Cole, aliás Irons e Harris, surge
em cena a mulher, na pessoa de
Allison French (Renée Zellweger). É o lance de originalidade
do filme, pois Allison destoa inteiramente das mulheres que o
Oeste nos legou até hoje.
É verdade que ela começa se
encantando pela pessoa do xerife, ou seja, chega no terreno
da pura convenção. Mas com o
tempo o filme vai mostrá-la
com outras tintas: como uma
mulher de desejo.
Por que Allison sai com o primeiro homem de poder que
aparece? Pode ser necessidade
de sentir a presença de um homem forte a seu lado, pode ser
qualquer outra coisa.
O xerife Cole responderá de
modo original, nada a ver com o
macho tradicional dos manuais: ele é o sujeito que tenta
entender a mulher, saber por
que age assim. Seja porque ele é
um bamba do gatilho seja por
qualquer outro motivo, ninguém ousa questioná-lo.
Apesar da originalidade da
proposição, ela tem o inconveniente de dispersar um pouco
as coisas, de colocar a história
original em surdina, a tal ponto
que no final podemos perguntar se Virgil Cole era mesmo o
herói da história.
"Appaloosa" representa um
claro avanço em relação a "Pollock", estréia de Harris na direção. É um filme hesitante entre as várias linhas que desenvolve. Mas não há dúvida de
que mais vale hesitar ou até
perder-se do que apegar-se à
segurança do filme "artístico".
Este aqui está vivo, é capaz de
surpreender o espectador em
seus hábitos e desestabilizá-lo.
De resto, convém não esquecer
que ver Jeremy Irons na pele
de um vilão de faroeste não deixa de ser uma aspiração de
qualquer fã de cinema.
APPALOOSA - UMA CIDADE
SEM LEI
Direção: Ed Harris
Produção: EUA, 2008
Com: Ed Harris, Viggo Mortensen
Onde: a partir de hoje nos cines Lumière, Iguatemi Playarte e circuito
Classificação: não indicado a menores de 14 anos
Avaliação: bom
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